Chikamatsu Monogatari, Taki no Shiraito e Sansho Dayu.
Filmes trágicos e negros, negros como a escuridão das noites mais escuras (Pedro Costa veio buscar tanta coisa a Mizoguchi para O Sangue). Filmes de amor mas sobretudo de humanidade (e da falta dela), tragédias desumanas ou de épocas desumanas onde a vida humana não valia mais que um chavo, coisa absurda (pensamos agora) mas que o foi outrora. Filmes do declínio humano causado não pelo amor mas pelo abuso do poder, a degradação ou a inevitável caminhada em direcção a essa degradação dos protagonistas. Tempos selváticos e de desmesurada crueldade. Causas disso? Não o amor, que o há, porque (excepto Sansho Dayu) são tragédias românticas, são contos de amores proibidos ou desventurados, marcados pela crueldade ou pelo agoiro ou qualquer coisa que se assemelhe, qualquer coisa morta (ou condenada a morrer) à nascença, qualquer coisa tão trágica e ao mesmo tempo tão pueril que torna difícil a sua sustentação (a do romance). Não, o amor não é a causa, ou que a seja, não é a causa directa. Causa efectiva ou origem de toda a fatalidade é acima de qualquer coisa a repressão social. Por isso aquele destino e a tal caminhada inglória, em vão, sem que se desista e em que mesmo com a morte bem presente se resista e se lute pela razão e pela vida. E o amor (o amor maternal e fraternal em Sansho Dayu), como causa desse declínio, chega depois na força indescritível que o herói ou a heroína ou os heróis conseguem alcançar desse amor, aí o amor é causa do destino, do caminho que eles (ou ela) traçam. Mas eles são obrigados àquele caminho, àquelas decisões, porque a norma social e moral assim o dita (e falamos de épocas medievais e de revolução industrial, de tempos em que se crucificavam adúlteras e amantes, de tempos de escravidão e de leis "inventadas à pressão"). Mizoguchi filma as sombras das tragédias, das vidas roubadas pelos senhores feudalistas, da desumanização enraizada em cada pedaço de terra daquele Japão. Mas também filma a sublevação dos oprimidos, a esperança e a coragem, também filma a compaixão por pouca que seja. Coisas idílicas e quase bíblicas. São filmes inexoravelmente belos, são contos de dor e de amor à humanidade, coisas líricas que gritam nas sombras da morte a reclamação pela vida.
Filmes trágicos e negros, negros como a escuridão das noites mais escuras (Pedro Costa veio buscar tanta coisa a Mizoguchi para O Sangue). Filmes de amor mas sobretudo de humanidade (e da falta dela), tragédias desumanas ou de épocas desumanas onde a vida humana não valia mais que um chavo, coisa absurda (pensamos agora) mas que o foi outrora. Filmes do declínio humano causado não pelo amor mas pelo abuso do poder, a degradação ou a inevitável caminhada em direcção a essa degradação dos protagonistas. Tempos selváticos e de desmesurada crueldade. Causas disso? Não o amor, que o há, porque (excepto Sansho Dayu) são tragédias românticas, são contos de amores proibidos ou desventurados, marcados pela crueldade ou pelo agoiro ou qualquer coisa que se assemelhe, qualquer coisa morta (ou condenada a morrer) à nascença, qualquer coisa tão trágica e ao mesmo tempo tão pueril que torna difícil a sua sustentação (a do romance). Não, o amor não é a causa, ou que a seja, não é a causa directa. Causa efectiva ou origem de toda a fatalidade é acima de qualquer coisa a repressão social. Por isso aquele destino e a tal caminhada inglória, em vão, sem que se desista e em que mesmo com a morte bem presente se resista e se lute pela razão e pela vida. E o amor (o amor maternal e fraternal em Sansho Dayu), como causa desse declínio, chega depois na força indescritível que o herói ou a heroína ou os heróis conseguem alcançar desse amor, aí o amor é causa do destino, do caminho que eles (ou ela) traçam. Mas eles são obrigados àquele caminho, àquelas decisões, porque a norma social e moral assim o dita (e falamos de épocas medievais e de revolução industrial, de tempos em que se crucificavam adúlteras e amantes, de tempos de escravidão e de leis "inventadas à pressão"). Mizoguchi filma as sombras das tragédias, das vidas roubadas pelos senhores feudalistas, da desumanização enraizada em cada pedaço de terra daquele Japão. Mas também filma a sublevação dos oprimidos, a esperança e a coragem, também filma a compaixão por pouca que seja. Coisas idílicas e quase bíblicas. São filmes inexoravelmente belos, são contos de dor e de amor à humanidade, coisas líricas que gritam nas sombras da morte a reclamação pela vida.
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