8 de março de 2011

Basicamente, o que Benning faz é colocar a câmara, enquadrá-la de forma a obter a visibilidade que quer daquilo que quer filmar. E o que quer filmar? Não interessa para nada. Em RR são comboios, em Los são locais, coisas, pessoas, carros, o céu, água, qualquer coisa de Los Angeles, em Sogobi (o do meio da trilogia) são sobretudo paisagens da Califórnia. O que interessa e o que é realmente importante naquilo que Benning faz é a forma, o som, a imagem e o tempo. Ou seja, durante um certo período de tempo, ele filma (seja lá o que ele filme) algo que nos transmite som e uma certa imagem, tudo em sintonia, a verdade pura, sem ilusões, a realidade. Filma apenas a vida, o céu, a terra, o ar, filma o que está à sua frente, o que vê à sua frente. O que transmite? Sei lá, emoções talvez, algum tipo de memórias ou espectros de vidas passadas, locais que perduram no tempo, filma o tempo, a força do tempo, o tempo dos planos, o tempo dos tempos, a matéria no tempo. Sei lá, filma a vida acima de tudo, o momento, a verdade daquele momento e daquele tempo (seja lá o que essa verdade for), esculpe no tempo memórias do lugar, porque os lugares, as coisas, os edifícios, etc., tudo tem o seu tempo ou o seu momento e nenhum momento é igual ao outro. Benning filma aquele momento, filma aquela brisa naquele momento, filma aqueles riachos e lagos e lagoas naquele momento, aquelas barragens naquele momento, aquela chegada daquele comboio naquele momento, aquelas nuvens, aquela neve, aquela chuva, aqueles carros a passar, aquelas pessoas a passar, aqueles animais a pastar e a beber, aquele pó a levantar, aquele fogo a queimar, aqueles campos verdejantes, aqueles vales, aquelas plantas e flores e árvores naquele momento, etc. Tudo fica ali, todos aqueles momentos ficam naqueles filmes onde se filma o nada, o verdadeiro nada, e onde se filma o tudo, toda a vida, toda a quietude ou todo o tumulto do momento, da natureza, daquela vida. Coisa tão ambígua mas tão pura.

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