John Ford
3 Godfathers, western lírico e bíblico, filme sagrado como aquela criança o passa a ser, filme do deserto longínquo e bravio que devora e consome aqueles homens, filme da redenção e da remissão, filme monumental. Ford o fazedor de quimeras, cineasta do crepúsculo mais belo que alguém já filmou em cinema, cineasta dos cânticos e da honra do homem, cineasta bíblico e da compaixão humana.
3 Godfathers é a história de três foras-da-lei, três ladrões de gado convertidos pela primeira vez em ladrões de bancos, homens a quererem dar o “salto”, homens a querer passar de simples ladrõezecos de gado para ladrões de bancos, perigosos, homens maus. Mas eles são tudo menos maus, são tudo menos perigosos (ou pelo menos da forma que os ladrões de bancos o seriam), são tudo menos foras-da-lei à imagem dum Jesse James ou Billy The Kid. Ford mostra isso logo no inicio naquela chegada à cidade onde se dá aquele tipo de confraternização (se é que lhe podemos chamar assim) entre os três anti-heróis e o xerife que ainda não sabem que é xerife. Ford mostra o respeito pelas senhoras, mostra o cuidado linguístico, mostra a inocência dos aspirantes a criminosos ao contarem donde vêem e como se chamam. Já antes nos era dado a conhecer o carácter deles, já antes Robert pergunta a William se quer mesmo ir, se está mesmo preparado, que assaltar bancos não é a mesma coisa que roubar gado, que não quer tiros, que é para tudo ser rápido. Não vou voltar atrás diz William. Mas a verdade é que irá haver tiros (poucos mais haverá no filme inteiro) e nada será fácil.
O que começa como uma simples história de um assalto a um banco passa a ser e acaba como uma fábula bíblica ou algo a querer comparar-se-lhe. De três foras-da-lei em fuga e na busca permanente de água e da sobrevivência passam a três padrinhos (inevitavelmente metáforas dos três reis magos) determinados não só na busca de água como no incessante cumprimento da promessa feita a uma moribunda. Salvar a criança que ajudaram a nascer. Confirmação clara da ausência de maldade nos três padrinhos, ou pelo menos da presença constante duma dignidade e integridade (ou vestígios dela), o humanismo de Ford a vir ao de cima. O que importa ou aquilo que passa a importar a partir do momento em que aquela mãe morre é salvar aquele recém-nascido, cumprir a promessa feita. Tudo o que está para trás desvanece-se na areia do deserto e no calor abrasador do sol que queima e clama por água. A partir daquele momento nem o dinheiro do assalto é lembrado ou lhe dado a importância que no principio a tem (até porque depois do assalto nem se fala mais em dinheiro), a partir daquele momento eles já não fogem do xerife mas sim do tempo e do deserto, fogem para salvar o pequeno Robert William Pedro porque é tudo o que importa. É tudo o que o cinema de Ford sempre procurou, homens de honra, de justeza, humanos. E no fim Robert alcança a redenção. Magistral.
3 Godfathers é a história de três foras-da-lei, três ladrões de gado convertidos pela primeira vez em ladrões de bancos, homens a quererem dar o “salto”, homens a querer passar de simples ladrõezecos de gado para ladrões de bancos, perigosos, homens maus. Mas eles são tudo menos maus, são tudo menos perigosos (ou pelo menos da forma que os ladrões de bancos o seriam), são tudo menos foras-da-lei à imagem dum Jesse James ou Billy The Kid. Ford mostra isso logo no inicio naquela chegada à cidade onde se dá aquele tipo de confraternização (se é que lhe podemos chamar assim) entre os três anti-heróis e o xerife que ainda não sabem que é xerife. Ford mostra o respeito pelas senhoras, mostra o cuidado linguístico, mostra a inocência dos aspirantes a criminosos ao contarem donde vêem e como se chamam. Já antes nos era dado a conhecer o carácter deles, já antes Robert pergunta a William se quer mesmo ir, se está mesmo preparado, que assaltar bancos não é a mesma coisa que roubar gado, que não quer tiros, que é para tudo ser rápido. Não vou voltar atrás diz William. Mas a verdade é que irá haver tiros (poucos mais haverá no filme inteiro) e nada será fácil.
O que começa como uma simples história de um assalto a um banco passa a ser e acaba como uma fábula bíblica ou algo a querer comparar-se-lhe. De três foras-da-lei em fuga e na busca permanente de água e da sobrevivência passam a três padrinhos (inevitavelmente metáforas dos três reis magos) determinados não só na busca de água como no incessante cumprimento da promessa feita a uma moribunda. Salvar a criança que ajudaram a nascer. Confirmação clara da ausência de maldade nos três padrinhos, ou pelo menos da presença constante duma dignidade e integridade (ou vestígios dela), o humanismo de Ford a vir ao de cima. O que importa ou aquilo que passa a importar a partir do momento em que aquela mãe morre é salvar aquele recém-nascido, cumprir a promessa feita. Tudo o que está para trás desvanece-se na areia do deserto e no calor abrasador do sol que queima e clama por água. A partir daquele momento nem o dinheiro do assalto é lembrado ou lhe dado a importância que no principio a tem (até porque depois do assalto nem se fala mais em dinheiro), a partir daquele momento eles já não fogem do xerife mas sim do tempo e do deserto, fogem para salvar o pequeno Robert William Pedro porque é tudo o que importa. É tudo o que o cinema de Ford sempre procurou, homens de honra, de justeza, humanos. E no fim Robert alcança a redenção. Magistral.
1 comentário:
De modo geral eu nunca gostei de faroestes, mas filmes do John Ford são exceções.
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