27 de maio de 2011

À Nos Amours (1983)
Maurice Pialat

Aquilo que Pialat filma é qualquer coisa de tão visceral, tão agressivamente brutalmente e vigorosamente sexual, sensual, leviano, descoberta de novos sentidos, procura constante e sem fé da felicidade, do amor, coisa maldita, forçada ao fracasso, expiação de qualquer coisa, incapacidade de amar ou de encontrar o amor. À Nos Amours, filme de uma tal magnitude que arranca tudo às vísceras, moral e eticamente abalado e a abalar tudo e todos, disfunção familiar, violência quer física quer psicológica, intensidade frenética, adolescência à deriva inserida num meio inadaptado…

Pialat filma tudo simples e directamente, na procura do realismo, da crueza, na explosão iminente dos histerismos uivantes daquela família disfuncional e desmembrada a pouco e pouco, coisa física entre os personagens, demasiado físico em tudo o que rodeia aquela história duma adolescente que perde a virgindade por um acaso num acto irreflectido de revolta. Revoltosa passará a ser, para com o mundo mas sobretudo para com a mãe, semblante oposto ao seu, espírito rebelde e autónomo, a candura que se perdeu e que resultou nessa índole agridoce para com a vida, disposta a tudo porque para ela tudo vale e nada é suficiente, refazer da vida na sombra do erro, do primeiro erro, o primeiro amor que será sempre o único porque o restante percurso é fruto do seu erro, é a procura desse amor em outros tantos amores que ela sabe nunca ser igual ao primeiro, porque do primeiro resta a candura - amor de criança - coisa pueril, antagonismo de tudo o resto em que ela mergulha. À Nos Amours, filme da descoberta.

2 comentários:

Rato disse...

Um filme de que gostei bastante quando o vi na altura da estreia. Preciso de o rever um dia destes.

O Rato Cinéfilo

Flávio Gonçalves disse...

Muito bom mesmo. Adorei.