Philippe Garrel
Le Lit de la Vierge é, antes de mais, o completo antagónico quer de Les amants réguliers quer de La frontiere de l'aube, é coisa tão arcaica, tão experimentalista, hipnótica, alucinante, tão perto de Pasolini ou de Straub, objecto de influência a tanto Lynch (Ereserhead à cabeça), Cronenberg na fase do Stereo. Há tanto onirismo ali, tanta pressão na desmitificação do mito, tanta preocupação no raccord, na teatralidade das acções, dos movimentos, tanta moral atrás daquilo tudo. Le Lit de la Vierge é um filme sombrio, negro, um autêntico pesadelo psicadélico ou coisa assim, é tudo desmesuradamente enigmático, simbólico, hiper-melancólico, mordaz, coisa obcecada pela representação, pela veracidade da representação, sei lá, peculiar mas belo, muito belo. Filme de planos, de mestre a filmar, completamente de mestre, incrivelmente atraente, duma beleza ímpar, com movimentos de câmara brutais, o enquadramento, o ritmo, o tempo dos planos e das acções, os planos e a paisagem, a profundidade de campo, está lá tudo nesta obra-prima. É entrar no mundo de Garrel, naquele mundo alegórico, descrente, erosivo, brutal mas ao mesmo tempo tão lírico. Le Lit de la Vierge mais que bíblico é apocalíptico, brutalmente apocalíptico, é no fim de contas a constatação de que o ser humano é feio, é cruel, é uma condenação, um julgamento, sei lá…acima de tudo um lamento.
1 comentário:
As imagens são belas.
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