Yoshishige Yoshida
Uma mulher tem um amante (mais jovem), uma noite é assaltada por um homem que lhe leva a carteira, lá dentro tem umas fotografias suas (nuas) tiradas certa vez pelo seu amante. A partir daí vem a chantagem. Mas em vez de dinheiro o homem parece querer ter relações sexuais com ela. O que Yoshida faz aqui é qualquer coisa tão metódica (e aquela música ajuda tanto a isso), qualquer coisa tão fria e tão quente ao mesmo tempo naquele desejo sexual e em toda a perversidade daquela história de traição e chantagem. Tudo tão sereno e tão insólito nessa sua serenidade, a roçar o surrealismo (ou será por causa daquela música?), coisa bravia que parece aprisionada dentro de qualquer coisa que a impede de explodir, o medo e a coação na tentativa de resolver aquele “problema”, coisa que virá criar outro “problema”, ética ou moral incluída, orgulho ou honra, pudor ou atracção, desejo, tanta coisa que sucede ali, que atinge aquela mulher criando-lhe um enigma na decisão, porque ela está na dúvida, o amante diz-lhe que a ama e que irá viver com ela, que desfaz o noivado. Mas ela tem um casamento seguro (economicamente falando), mais vantajoso. O que fazer? Sucumbir ao desejo daquele desconhecido ou desistir de tudo e deixar que as fotografias sejam enviadas ao marido? É tudo tão físico, tão corporalmente expressivo, aquele final é a explosão total de toda a serenidade que pontua o filme. Yoshida podia ter feito um filme negro (eu teria feito, a história reclama isso), mas não o fez. Onna no Mizuumi é um filme de luz, de movimentos de câmara e enquadramentos monumentais, qualquer coisa visualmente poética ou ascética. Grande filme.
3 comentários:
Os filmes do Yoshida provocam-me constantes "arrepios"...
As suas obras fazem-me lembrar as de Hiroshi Teshigahara, nomeadamente Woman in the Dunes, pela capacidade que têm de hipnotizar o espectador.
não conhecia e fiquei com vontade de ver
gostei do texto que escreveste
Nunca vi nada do Teshigahara Sam.
Beatrix, obrigado :)
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