3 de abril de 2011

Apa (1966)
István Szabó

Retire-se qualquer ideia de sentimentalismos banais ou apelativos do pós-guerra em Apa. Aqui não há nada disso, nem tampouco há manipulações de sensibilidades ou doutra merda qualquer. O que há é um aflorar da alma das gentes húngaras do pós segunda guerra mundial, o que há é a viagem pelas fantasias e ilusões duma criança que precocemente perdeu o pai depois da guerra, o que há é a erupção imaginativa da mente duma criança a contas com a ausência paternal. A ilusão, a criação dum “pai-tipo” que cresce na sua imaginação, que o faz sentir melhor, que lhe satisfaz a necessidade do orgulho no pai (e de o declarar aos colegas) que refugia judeus na cave do hospital, que integra a resistência e que correu o mundo. Tudo em Apa é um constante deambular entre realidade e imaginação (sobretudo na fase da infância), coisa que mesmo quando atingida a adolescência continua a assombrar o jovem Takó, as memórias fantasiadas, irreais, coisa onírica. Há ali o criar dum mundo que quando atingida a adolescência deixa de ter sentido ou deixa de ser necessário (e para isso contribui muito o encontrar o amor e aquela consciencialização de que o mundo não é como ele o idealizou). Aquela visita à aldeia onde o pai nasceu inicia esse processo de retorno à realidade e de liquidação daquele mundo criado e daquele pai mítico e heróico que culmina naquele final metafórico e soberbo. Muito bom.

1 comentário:

Sam disse...

Caro Álvaro,

estou a preparar, para o meu blog (Keyzer Soze's Place), uma iniciativa que será composta pela opinião de vários bloggers.

Preciso de fazer o convite por mail, mas não encontro um endereço relativo ao teu blog. Deste modo, e caso estejas interessado, solicitava a indicação dessa vontade para andradesamuel@gmail.com

Obrigado desde já!

Cumps. cinéfilos.