Ousmane Sembene
Ousmane Sembene, cineasta senegalês, a julgar por Moolaabé cineasta político, revolucionário como aquela mulher o é, heroína entre as heroínas, reflexo do tormento e da resistência humana (sobretudo feminina que é o alvo aqui). Moolaabé, filme da simplicidade da temática (a mutilação genital feminina), filme da liberdade narrativa, rejeita qualquer sensibilização desnecessária, romantizações e enredos da história ou vitimizações apelativas à choradeira e ao sentimento de pena do costume. Nada disso. Moolaabé é um filme muito objectivo na sua mensagem política e revolucionária. Quer mostrar a crueldade sim, quer mostrar a ignorância sim, quer mostrar os ritos e os costumes daquele povo, da África longínqua, quer mostrar a opressão e a tentativa de impedir o desenvolvimento e consequente desopressão, mas sobretudo quer mostrar a força da sua heroína, quer mostrar que é possível a sublevação contra aquela tirania. É um grito de revolta contra obscurantismos, fanatismos, crenças e cultos ultrapassados e estupidificados. E é espantosa a forma como Sembene faz um filme tão claro, quase sempre à luz do dia como se essa luz quisesse personificar a luz da revolta, do basta que, excepto Collé, nenhuma mulher foi capaz de proferir, ou então como se essa luz viesse simbolizar o moolaabé (protecção sagrada que Collé invoca para proteger aquelas garotas). Monumental.
2 comentários:
O meu próximo ciclo vai ser sobre o cinema Africano. E este é um dos filmes que já tenho por aqui ;)
É um grande filme ;) já fiquei curioso Chico, não conheço muito cinema africano.
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