23 de abril de 2011

El Espíritu de La Colmena (1973)
Víctor Erice

A mente duma criança é o lugar mais fértil imaginativamente e fantasiosamente, mundo de fantasias e fantasmagorias, espaço de irrealidades e utopias constantes, por vezes desligado do mundo e da realidade. Ora, o que acontece em El Espíritu de La Colmena é precisamente a exploração da mente imaginativa duma criança. Antes de mais, Fernando o pai é um homem obstinado pelas abelhas e pelo estudo destas faltando até com o afecto e o amor para com a esposa. Esta, por sua vez, mergulha num estado alienado em que “reclama” pelo amor (ou amores?) passado, escreve cartas para ele e vive assim imersa numa vida isolada/solitária. Isto faz com que as crianças, Isabel e Ana, se encontrem “abandonadas” na exploração daquele pequeno mundo provinciano onde a chegada do cinema ambulante é o grande acontecimento. O filme, Frankenstein, cria incompreensibilidades em Ana, não compreende o destino fatal do monstro nem os actos deste. Por isso, esta procura da racionalização do que vira naquele filme revelar-se-á também ela brutal para a compreensão mental da criança, originando assim uma sucessão de acções que traduzem a imaginação e a compreensão do filme e da realidade por parte de Ana. Assim, El Espíritu de La Colmena mergulha na imensidão da alienação daquela família que origina esse vaguear mental da criança onde a ilusão e a alegoria tomam controlo total culminando naquele colapso mental pelo choque do confronto ilusão/realidade. Erice consegue criar alguma claustrofobia e acima de tudo um vazio afectuoso na imensidão daquela casa, fá-lo na iminência de outro confronto, o da inocência perdida face à feiura e desilusão da realidade criando nela (na criança) uma confusão mental que a leva ao colapso. El Espíritu de La Colmena é uma fábula lírica e maravilhosa sobre a perda da inocência infantil.

4 comentários:

Mariana disse...

Este filme tem um impacto terrível sobre o espectador, a solidão e o abandono daquelas meninas. Das melhores surpresas que o cinema já me proporcionou.

Roberto Simões disse...

Estou para ver isto há muito tempo!
O teu texto lá me abriu o apetite mais uma vez.

Roberto Simões
CINEROAD

Enaldo Soares disse...

Este eu o vi há alguns anos. Grande filme. Grande crítica.

Álvaro Martins disse...

Mariana, concordo plenamente.

Roberto e Enaldo, obrigado ;)