Jafar Panahi

Comecemos pelo inicio onde uma avó espera no hospital o nascimento do seu neto. Cedo lhe dizem que é uma menina e que a sua filha está bem, mas a família do genro esperava um menino, diz ela que eles quererão a separação. Panahi diz-nos que a mulher nem sequer é desejada, estabelece ali um paralelismo entre o nascimento da mulher e o círculo que se fecha naquele final, como se aquele destino fosse à nascença marcado pela condição de indesejada. Há ali um forte sentido de condenação da mulher (não só da que nasce como da que dá a nascer), qualquer coisa a bradar pela injustiça da sua condição numa desesperança constante. É rápido que Panahi nos transporta para as ruas de Teerão (seguindo aquela avó desesperada) onde também rapidamente nos leva a seguir duas mulheres fugidas da prisão. Tentam resistir, esconder-se, andam em busca do paraíso como uma delas lhe chama (a terra dela), mas é tudo sem esperança, condenadas ao falhanço que a sua condição remete, são procuradas, uma mulher sozinha tem de apresentar os documentos (coisa que não têm), a polícia controla tudo. Separam-se, uma delas desiste da utopia, seguimos a outra que após conseguir comprar o bilhete para a sua aldeia tem de fugir da polícia, ela vai em busca doutra fugitiva que é de Teerão, brevemente passaremos a seguir essa e depois outra e depois outra até no final se fechar o círculo.
A crueza acentua acima de tudo o tal realismo social e político assim como arrasta consigo uma liberdade da imagem (deambulando entre a claridade e a negrura) no que a esse realismo toca. Denota-se também uma ocasional influência dos Dardenne (a câmara à mão e o ritmo e a aproximação com que segue os personagens). Grande filme.
Sem comentários:
Enviar um comentário