Vargtimmen ou A Hora do Lobo é, talvez, o filme mais psicótico e enigmático de Bergman (mais que Persona até). Porque em Vargtimmen nunca sabemos se o que estamos a ver é a realidade ou os medos e os fantasmas de Alma ou de Johan. E mais importante é, se a aceitarmos, não saber quando tem início a alucinação de Johan. David Lynch a Vargtimmen muito deve para a construção material dos seus filmes mais enigmáticos (Eraserhead, Mulholland Dr., Inland Empire), nomeadamente na forma como define o seu cinema na qual nunca procura dar respostas mas sim perguntas. E Vargtimmen é assolado desde o início com perguntas às quais nunca chegamos a conhecer as respostas, a não ser as que vamos conseguindo formular ao longo do filme. Um sonho? Imaginação? E aquele diário, existe mesmo? E se existe, quem afinal o escreveu? Johan ou terá sido Alma? E qual deles será o fantasma do outro, assim como os fantasmas daquele castelo?
Em Vargtimmen tudo se materializa. Se a sanidade mental de Johan se perde nalgum momento (se não quisermos aceitar que vem do início do filme) dá-se em dois momentos, na cena onde Johan fala da hora do lobo a Alma somente iluminado por um fósforo e na cena da morte do garoto. São esses os momentos em que Johan entra em colapso mental com os seus fantasmas e a alucinação começa. Mas podemos também considerar o momento em que Alma lê pela primeira vez o diário, e, aí teremos de afastar Johan (o Johan pós leitura do diário) como insano e julgá-lo como irreal, como fruto da imaginação de Alma. Porque ao ler sobre Veronica Vogler, Alma descobre algo que até aí desconhecia sobre o passado de Johan. E se virmos bem, tudo se resume a Veronica Vogler e à relação que outrora teve com Johan. Portanto, a partir desse momento podemos ter aí o começo da alucinação (ou talvez de um sonho) mas de Alma, causada pelo ciúme.
Vargtimmen é um filme muito complexo, é filme de sombras e de obscuridades. Intenso e traumático. É uma viagem alucinante e abismal pelos caminhos turtuosos e obscuros da mente de Johan (ou será de Alma?). Vargtimmen só não é a grande obra-prima de Bergman porque um dia fez Persona.
5 comentários:
Mas Vargtimmen é mais uma das obras-primas de Bergman... e até tem alguns pontos em comum com Persona!
ISTO é cinema ;)
Claro que é Neuroticon. Só disse que o Persona é a melhor obra-prima dele :)
Sim, tem muito em comum com o Persona, aliás, foi feito logo a seguir ao Persona. São ambos muito psicológicos e traumáticos.
E sim, isto é que é cinema ;)
É o meu preferido do Bergman. :)
Realmente pensei em Lynch, ele foi provavelmente buscar esta forma de apresentar personagens bizarras.
Filme perturbador este.
Abraço
Eu já entendi um pouco diferente, quando ela percebe que ele está irremediavelmente louco (na cena em que ele fala que foi convidado pra ir ao castelo e ela faz um belíssimo facepalm.), ela mata o Johan e passa a viver a loucura dele - de ambos, na verdade, através do diário. A personalidade dela se "duplica", se projeta e ela passa a "viver" pelos dois.
Não, eu não fumei um. Mas tomei uns vinhos.
Enviar um comentário