2016, A quiet passion
18 de julho de 2025
14 de julho de 2025
encetando uma das minhas grandes falhas cinematográficas, o cinema de terence davies, constato que, pelo menos, estas suas primeiras obras são diamantes brutos acerca da memória e da melancolia que ela acarreta; poeta cantante, adentra na nostalgia do passado como veículo formalista do seu cinema, sentimento inerente à memória que veicula todo o teor autobiográfico desta suas obras; se em distant voices, still lives o autor se confronta com a perda do pai e os conflitos interiores acerca do que essa perda deixou na sua família, já em death and transfiguration a morte assumia um papel preponderante - não só a da mãe como a sua no final -, mas o grande ónus será a sua homossexualidade reprimida, libertação sacral naquele final em que a luz o alcança, remissão... mas é em long day closes que a morte se retira e o papel da mãe e das relações fraternais na infância se engrandecem, sempre latente mas presente essa homossexualidade reprimida, o olhar da memória sobre o olhar cândido do petiz de então para a adolescência fraterna, influências exercidas, ternura associada, o seu mundo infantil numa liverpool sombria duma classe trabalhadora precária; ainda, o que há em davies como elo natural dessa memória é a sua musicalidade como pertença quase que etnográfica e sociológica, adquirindo um sentido ritualistico; maravilhoso!
1983, Death and transfiguration
1992, The long day closes
Distant voices, still lives (1988, Terence Davies)
| nostalgia melancólica |
em distant voices, still lives somos confrontados com a ausência de linearidade temporal onde a memória é o motor fulcral que nos lança nas lembranças nostálgicas (e autobiográficas do cineasta) e lancinantes e que partem da disfuncionalidade familiar; em torno da figura paternal, base capilar da disfuncionalidade referida, do autoritarismo à brutalidade, seguimos para a construção daquelas vidas jovens (os filhos), assombradas pela paradoxal relação pai/filho(a) em que o amor e o ódio se entrelaçam, e davies fá-lo tão liricamente quanto musicalmente… e tão belíssimo, tão monumental é distant voices que o filme acaba e a sua melancolia parece continuar em nós… e é nas memórias que a música adquire o seu verdadeiro sentido, é nela que as vozes distantes do título (as memórias) se evocam; terence davies não apenas carrega em distant voices o sentido nostálgico e da crueza dum passado amargo e cinzento, e por isso o filme nunca cai na tentação de se agarrar e se perder no melodramático em si, ao invés mergulha nessas memórias que a nostalgia reclama numa odisseia pelas rotas tanto da amargura como da ternura e dos momentos de felicidade; é, assim, essa nostalgia que distant voices transpira e que, não obstante, venha a maior parte das vezes acompanhada da melancolia, que supera em si a tentação do facilitismo dramático (e de outros facilitismos, um deles o do ritmo) e enverede pelo realismo de uma vida, a qual abarca não só essa amargura retractada (e não só a questão disfuncional paterna como as dificuldades económicas próprias da classe trabalhadora inglesa dos meados do século passado) como os seus momentos de alegria e de felicidade; distant voices, still lives nunca opta por histerismos ou por grafismos numa apelação ao sensacionalismo, e é admirável que assim seja, ao invés segura em si a sobriedade do seu objecto, carrega no lirismo melancólico e nostálgico que o move e produz em si um portento de filme; belíssimo.
9 de julho de 2025
La chambre verte (1978, François Truffaut)
Queimada (1969, Gillo Pontecorvo)
Svadba (2000, Pavel Lungin)
Walesa. Czlowiek z nadziei (2013, Andrzej Wajda)
ao rever la chambre verte de truffaut, porventura o seu filme mais negro e mórbido, adentro na sua peculiaridade de metamorfosear o luto numa espiral ritualística e "odisseica" de perpetuação da veneração do morto na prevenção do esquecimento; assim, neste belíssimo e tristíssimo truffaut, debate-se a memória dos mortos como oposição (nele, em julien) à vida e ao seu percurso natural no post-mortem, em especial no renascer do amor carnal; é logo no início, em que truffaut diz ao marido acabado de enviuvar que os mortos estão vivos em nós, que la chambre verte se desdobra no que virá - a sombria memória que assombra aquelas almas -, para falar do amor eterno como uma rejeição da vida...
em queimada, a dada altura josé dolores, o zé ninguém que se torna general dos revolucionários, diz a outro escravo que a liberdade tem de ser conquistada, e aparte a troca (propositada ou não) da espanha por portugal (nunca tivemos colónias nas antilhas), queimada expõe a colonização como instrumento político, paradoxo da civilização, que perdura até aos dias de hoje com o nefasto exemplo israelita em curso; é particularmente interessante, e contrastando com o anacronismo (ou o que se lhe possa chamar) já referido, que pontecorvo ateste a origem anglo-saxónica do modus operandi de promover revolucionários (e revoluções) para os tais regime changes, na altura ainda colonizers changes...
já em svadba, comédia romântica fortemente influenciada pelo cinema de kusturica, nada de muito relevante se lhe pode atestar, salvo a relativa competência no género e na senda "kusturiqueira", assim como walesa de wajda se perfaz um interessante biopic sobre a figura lendária do líder sindicalista e mais tarde primeiro presidente polaco do pós-comunismo.
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Qual o melhor filme de Hitchcock? Estou dividido entre o Rear Window e o Spellbound .