encetando uma das minhas grandes falhas cinematográficas, o cinema de terence davies, constato que, pelo menos, estas suas primeiras obras são diamantes brutos acerca da memória e da melancolia que ela acarreta; poeta cantante, adentra na nostalgia do passado como veículo formalista do seu cinema, sentimento inerente à memória que veicula todo o teor autobiográfico desta suas obras; se em distant voices, still lives o autor se confronta com a perda do pai e os conflitos interiores acerca do que essa perda deixou na sua família, já em death and transfiguration a morte assumia um papel preponderante - não só a da mãe como a sua no final -, mas o grande ónus será a sua homossexualidade reprimida, libertação sacral naquele final em que a luz o alcança, remissão... mas é em long day closes que a morte se retira e o papel da mãe e das relações fraternais na infância se engrandecem, sempre latente mas presente essa homossexualidade reprimida, o olhar da memória sobre o olhar cândido do petiz de então para a adolescência fraterna, influências exercidas, ternura associada, o seu mundo infantil numa liverpool sombria duma classe trabalhadora precária; ainda, o que há em davies como elo natural dessa memória é a sua musicalidade como pertença quase que etnográfica e sociológica, adquirindo um sentido ritualistico; maravilhoso!
1983, Death and transfiguration
1992, The long day closes