28 de janeiro de 2022

21 de janeiro de 2022

20 de janeiro de 2022


 

The Power of the Dog, Jane Campion, 2021

The power of the dog transpira a tragédia desde o seu início, numa confrontação com o espectador que atravessa todo o filme, nas suas duas horas, numa contenção [e talvez contenção seja a palavra ideal para descrever ou classificar o filme] embrenhada em traumas e sexualidade (a homo) reprimida. Coisa, portanto, psicológica e que vive num conflito interior das suas personagens, todas elas humanizadas pela cineasta neozelandesa. A comparação com Kelly Reichardt é justíssima e evidente, the power of the dog tem o mesmo pioneirismo do oeste americano que encontramos nos filmes da cineasta americana, a mesma atenção ao espaço e à forma como, por exemplo, indicadores da natureza dos personagens ou da própria acção em si. A forma como Campion filma denota [daquilo que me lembro do seu Piano] um amadurecimento do seu cinema… parece-me… este é um cinema preocupado com os detalhes, com os gestos, os pormenores, o espaço, o ambiente, as cores, os travellings… num filme contido em que a erupção nunca chega [ou quando chega é também ela contida e dissimulada], o fim chega e diz-nos que a fragilidade é também ela mortífera. Grande!

Doraibu mai kâ, Ryûsuke Hamaguchi, 2021


 

Happî awâ, Ryûsuke Hamaguchi, 2015

18 de janeiro de 2022


 

Memoria do Weerasethakul é um lamento sensorial e misterioso, coisa repleta de silêncios e de sons - é do som a maior experiencia de memoria -, descoberta interior da protagonista que corre atrás dum deciframento sonoro que a ensombra, coisa do passado ou doutra vida [coisa, portanto, natural a Weerasethakul], viagem de encontros e desencontros, realidade e memórias, fantasmagorias, (re)descobertas... a dada altura, tudo se funde e se entranha numa jornada de busca de percepções e de sensações que culmina num misticismo embrenhado de alegóricas (ou simbólicas) renovações e de espiritualismo, alheado de linearidades… estamos em pleno território do tailandês… é tudo tão belo e tão sereno, planos longos e morosos, reino dos silêncios e da natureza, dos sons dela [e talvez memoria seja o seu filme mais sonoro porque parte da sua experiencia, a do som, e da sua decifração], respeito profundo pelo momento em si, pelo espaço e pela sua comunhão… o cinema de Apichatpong Weerasethakul é uma experiência mediúnica, coisa hipnotizante que cria conexões com o espectador… memoria é isso tudo e muito mais, carrega consigo uma portentosa actuação de Swinton… aquela postura e aquele olhar!... assim como uma luz enigmática e bela que vive não só nas suas imagens como na interpretação de Tilda. Portento de filme!

12 de janeiro de 2022


 

Pozitia Copilului, Cälin Peter Netzer, 2013

Pozitia Copilului, na versão portuguesa, Mãe e Filho (como o do Sokurov, mas coisa bem diferente e bem longe do lirismo da obra-prima do russo), é filme sobre o amor materno e, sobretudo isso sobretudo isso, sobre a força do amor materno, a incondicionalidade dele. Filmado com a câmara à mão, numa perseguição aos personagens, coisa na senda dos irmãos Dardenne ou, mais anterior, do Dogma 95 dos dinamarqueses von Trier e Vinterberg, Pozitia Copilului é coisa com uma certa crueza, realista e pessimista, ainda que no final se alcance a remissão, ou a tentativa dela. Mergulhamos num mundo frio e cruel, onde a corrupção e a arrogância burguesa reinam - realidade portanto -, e somos confrontados com a adversidade e com a reacção à adversidade. É importante realçar que a reacção e o seu desenvolvimento surgem e reflectem a natureza da relação das personagens centrais - mãe e filho -, relação conflituosa, de amor/ódio, onde a grande força motriz do filme ou a grande inferência é o amor incondicional materno que ignora éticas e moralidades e vai contra tudo e contra todos pela sua cria, ainda que esta não lhe agradeça e a rejeite. Muito bom!

11 de janeiro de 2022


 

A palavra que me parece mais acertada para descrever o último e assombroso filme de Moretti é fábula, porque me parece que Tre piani é isso mesmo, uma fábula emocional e psicológica que rompe com a sordidez sarcástica que costuma pautar os filmes de Moretti. Aqui há uma cisão com isso, assim como existe um fio narrativo também estranho ao italiano, a narrativa do filme por “estórias” ou puzzles, sem uma personagem principal e sem algo mais sólido que nos aproxime (ou que nos crie mais intimidade ou desenvolvimento) das personagens, coisa mais próxima dum Woody Allen ou dum Sang-Soo. Tre piani desenvolve-se nos seus dramas psicológicos, partilhados pelos moradores daquele prédio, numa perspectiva efabulada e numa enovelada sucessão de acontecimentos e de passagem de tempo que parte da tragicidade e da obscuridade (o acidente e o incidente no parque) para no final alcançar a luz e a redenção. Bravo Moretti!

9 de janeiro de 2022

 Cigarros e soju


O que me agrada no cinema de Sang-Soo é a sua complexidade que brota da simplicidade, ou seja, a leveza com que filma o quotidiano, aparentemente o nada, para desaguar nas complexas relações pessoais do ser humano. Mais que qualquer outro cineasta da actualidade, Sang-Soo compreende como isso tudo pode ser uma temática muito mais apelativa que qualquer enredo dramático, trágico ou novelístico. Assim, a sua complexidade resulta na ambiguidade não só das suas histórias como do seu cinema, filmado na simplicidade dos planos longos, estáticos e dos zooms constantes. Em Sang-Soo qualquer movimento de câmara traz consigo o intuito de revelar algo ou evidenciar algo nos comportamentos humanos, sendo assim toda a sua composição e todo o seu desenvolvimento cinematográfico um estudo desses comportamentos quer seja em sociedade quer seja na intimidade e da psique humana. Assim, o cinema do sul coreano parece-me apresentar-se como coisa hedonista, ou numa sua procura, sempre (que me lembre) numa eterna (cíclica?) conjunção de repetições de acontecimentos, de situações, de lugares, de rituais, de vícios, de causalidades, etc, etc, criando puzzles com as histórias, como que numa afirmação indirecta (ou directa) de que a vida é uma eterna repetição, ou de que a natureza humana é limitante e cíclica. A isso junte-se a sua curiosidade (e imaginação) pelas situações e pelas suas possibilidades consoante as escolhas do ser humano, sentenciando assim a constatação de que a mais insignificante atitude ou escolha determina o futuro. Sang-Soo, o cineasta dos cigarros e do soju, das conversas nos cafés e dos passeios na praia, das tainadas e das bebedeiras, dos cineastas e dos actores, das reflexões do aparentemente nada, do quotidiano, das relações interpessoais e intersociais… Sang-Soo, o cineasta moderno da simplicidade... como é belo o seu cinema!

8 de janeiro de 2022

Sang-Soo

 

2016, Dangsinjasingwa dangsinui geot (Yourself and Yours) 

2017, Bamui haebyun-eoseo honja (On the Beach at Night Alone) 

2018, Grass

2018, Gangbyeon hotel (Hotel by the river) 

2020, Domangchin yeoja (A mulher que fugiu) 

2021, Introduction

 

5 de janeiro de 2022

 

2021


1995, Maboroshi no hikari, Hirokazu Koreeda
1994, Vive l’amour, Tsai Ming-Liang
1920, Humoresque, Frank Borzage
1952, Nagarik, Ritwik Ghatak
1966, Hudutlarin Kanunu, Lütfi Akad
1965, Subarnarekha, Ritwik Ghatak
1966, Krylya, Larisa Shepitko
1981, The Territory, Raúl Ruiz
1972, L’amour l’après-midi, Éric Rohmer
1934, Ukigusa Monogatari, Yasujiro Ozu
1937, Shukujo wa Nani o Wasuretaka, Yasujiro Ozu
1956, La Morte en ce Jardin, Luis Buñuel
1963, Mahanagar, Satyajit Ray
1965, Kapurush, Satyajit Ray
1972, Sayonara CP, Kazuo Hara
1974, Gokushiteki erosu: Renka 1974, Kazuo Hara
1997, Arizona, Ewa Borzecka
1965, Akahige, Akira Kurosawa
1962, Devyat dney odnogo goda, Mikhail Room
1983, Proshchanie, Elem Klimov
1951, Oyû-sama, Kenji Mizoguchi
1936, U Samogo Sinego Morya, Boris Barnet
1941, Man Hunt, Fritz Lang
1938, La femme du boulanger, Marcel Pagnol
1951, La Poison, Sacha Guitry
1923, The Ten Commandments, Cecil B. DeMille
1986, Kong bu fen zi, Edward Yang
1978, Les Rendez-Vous d’Anna, Chantal Akerman
1948, L’Amore, Roberto Rossellini
1984, Kaos, Paolo e Vittorio Taviani
1914, Cabiria, Giovanni Pastrone
1930, Liliom, Frank Borzage
1965, Voyna i Mir, Sergey Bondarchuk
1980, Permanent Vacation, Jim Jarmusch
1970, Lacrimosa, Aloysio Raulino
1974, Teremos Infância, Aloysio Raulino
1978, O Porto de Santos, Aloysio Raulino
1985, Inventário da Rapina, Aloysio Raulino
1960, Subete ga kurutteru, Seijun Suzuki
1997, Viagem ao Princípio do Mundo, Manoel de Oliveira
1972, Uma Abelha na Chuva, Fernando Lopes
1988, Wong gok ka moon, Wong Kar-Wai
1956, Nagareru, Mikio Naruse
1960, Onna ga kaidan wo agaru toki, Mikio Naruse
1964, Midareru, Mikio Naruse
1975, Maynila, Sa mga kuko ng liwanag, Lino Brocka
1966, Duminică la ora 6, Lucian Pintilie
1941, Meet John Doe, Frank Capra
1995, Xích lô, Tran Anh Hung



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2007, Mogari no mori, Naomi Kawase
2018, Leave no trace, Debra Granik
2020, A Metamorfose dos Pássaros, Catarina Vasconcelos
2019, Jia Ting Hui Yi, Xue Gu
2017, Mariphasa, Sandro Aguilar
2020, Yi zhi you dao hai shui bian lan, Jia Zhang-ke
2009, La danse, Frederick Wiseman
2018, Terra Franca, Leonor Teles
2006, Hei yan quan, Tsai Ming-Liang
2020, Otac, Srdan Golubovic
2001, Nǐ nà biān jǐ diǎn, Tsai Ming-Liang
2017, Lucky, John Carroll Lynch
2017, 120 battements par minute, Robin Campillo
2020, The Disciple, Chaitanya Tamhane
2000, Su Zhou he, Lou Ye
2010, Post Mortem, Pablo Larraín
2016, Lumière!, Thierry Frémaux
2006, Haebyeonui yeoin, Hong Sang-Soo
2004, Dare mo Shiranai, Hirokazu Koreeda
2013, La jalousie, Philippe Garrel
2004, O Quinto Império: Ontem como Hoje, Manoel de Oliveira
2000, Palavra e Utopia, Manoel de Oliveira
2010, Ok-hui-ui yeonghwa, Hong Sang-soo
2011, Book chon bang hyang, Hong Sang-soo
2012, Da-reun na-ra-e-seo, Hong Sang-soo
2015, Ji-geum-eun-mat-go-geu-ddae-neun-teul-li-da, Hong Sang-soo
2021, Annette, Leos Carax
2013, Night Moves, Kelly Reichardt
2018, Netemo sametemo, Ryûsuke Hamaguchi
2020, Undine, Christian Petzold
2014, Phoenix, Christian Petzold
2021, The Card Counter, Paul Schrader
2015, In Jackson Heights, Frederick Wiseman
2021, France, Bruno Dumont
2021, Okul Tirasi, Ferit Karahan
2015, Bei Xi mo shou, Zhao Liang


Melhor filme visto:
1951, Oyû-sama, Kenji Mizoguchi / 1952, Nagarik, Ritwik Ghatak 

Pior filme visto:
2021, Dune, Denis Villeneuve

4 de janeiro de 2022




A Xinyuan Zheng Lu atribua-se a capacidade de fazer de The cloud in her room, a sua primeira longa-metragem, uma coisa tão intimista quanto progressista... mergulhamos num filme estilizado visualmente, num preto e branco que alude a Garrel ou a Tarr, preenchido por flashbacks ou por memórias numa espécie de jornada/fase de alienação pessoal, e que consegue encorporar uma ambiência a roçar o film noir e aqueles espaços urbanos numa espécie de extensão geométrica ou geográfica do tumulto interior de Muzi, a jovem protagonista. Belo filme!




 

2020, Ta fang jian li de yun [The cloud in her room], Xinyuan Zheng Lu

2 de janeiro de 2022



 

2020, Luz nos Trópicos, Paula Gaitán

viagem dos sentidos... imersão nas memórias, na antropologia, na etnografia e na cosmologia - a indígena -, transcendência da natura e do belo... contemplação dos sons e das imagens... meditação! coisa sem artifícios, sem virtuosismos, coisa por vezes rudimentar, de silêncios e de olhares, de procura de sensações... coisa onírica e elíptica... colossal!

1 de janeiro de 2022

 



2015, Bei xi mo shou [Behemoth], Zhao Liang

Behemoth é coisa cinzenta e fria que vive numa deambulação entre o documental e a ficção e trilha terrenos oníricos e poéticos [a roçar a surrealidade]. Evoca ainda um certo tipo de mitologia e/ou simbologia na procura incessante duma relação/identificação com o que o filme relata/observa. Como o próprio título em português o indica, Gigante!