Cigarros e soju
O que me agrada no cinema de Sang-Soo é a sua complexidade que brota da simplicidade, ou seja, a leveza com que filma o quotidiano, aparentemente o nada, para desaguar nas complexas relações pessoais do ser humano. Mais que qualquer outro cineasta da actualidade, Sang-Soo compreende como isso tudo pode ser uma temática muito mais apelativa que qualquer enredo dramático, trágico ou novelístico. Assim, a sua complexidade resulta na ambiguidade não só das suas histórias como do seu cinema, filmado na simplicidade dos planos longos, estáticos e dos zooms constantes. Em Sang-Soo qualquer movimento de câmara traz consigo o intuito de revelar algo ou evidenciar algo nos comportamentos humanos, sendo assim toda a sua composição e todo o seu desenvolvimento cinematográfico um estudo desses comportamentos quer seja em sociedade quer seja na intimidade e da psique humana. Assim, o cinema do sul coreano parece-me apresentar-se como coisa hedonista, ou numa sua procura, sempre (que me lembre) numa eterna (cíclica?) conjunção de repetições de acontecimentos, de situações, de lugares, de rituais, de vícios, de causalidades, etc, etc, criando puzzles com as histórias, como que numa afirmação indirecta (ou directa) de que a vida é uma eterna repetição, ou de que a natureza humana é limitante e cíclica. A isso junte-se a sua curiosidade (e imaginação) pelas situações e pelas suas possibilidades consoante as escolhas do ser humano, sentenciando assim a constatação de que a mais insignificante atitude ou escolha determina o futuro. Sang-Soo, o cineasta dos cigarros e do soju, das conversas nos cafés e dos passeios na praia, das tainadas e das bebedeiras, dos cineastas e dos actores, das reflexões do aparentemente nada, do quotidiano, das relações interpessoais e intersociais… Sang-Soo, o cineasta moderno da simplicidade... como é belo o seu cinema!
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