11 de janeiro de 2022


 

A palavra que me parece mais acertada para descrever o último e assombroso filme de Moretti é fábula, porque me parece que Tre piani é isso mesmo, uma fábula emocional e psicológica que rompe com a sordidez sarcástica que costuma pautar os filmes de Moretti. Aqui há uma cisão com isso, assim como existe um fio narrativo também estranho ao italiano, a narrativa do filme por “estórias” ou puzzles, sem uma personagem principal e sem algo mais sólido que nos aproxime (ou que nos crie mais intimidade ou desenvolvimento) das personagens, coisa mais próxima dum Woody Allen ou dum Sang-Soo. Tre piani desenvolve-se nos seus dramas psicológicos, partilhados pelos moradores daquele prédio, numa perspectiva efabulada e numa enovelada sucessão de acontecimentos e de passagem de tempo que parte da tragicidade e da obscuridade (o acidente e o incidente no parque) para no final alcançar a luz e a redenção. Bravo Moretti!

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