18 de janeiro de 2022


 

Memoria do Weerasethakul é um lamento sensorial e misterioso, coisa repleta de silêncios e de sons - é do som a maior experiencia de memoria -, descoberta interior da protagonista que corre atrás dum deciframento sonoro que a ensombra, coisa do passado ou doutra vida [coisa, portanto, natural a Weerasethakul], viagem de encontros e desencontros, realidade e memórias, fantasmagorias, (re)descobertas... a dada altura, tudo se funde e se entranha numa jornada de busca de percepções e de sensações que culmina num misticismo embrenhado de alegóricas (ou simbólicas) renovações e de espiritualismo, alheado de linearidades… estamos em pleno território do tailandês… é tudo tão belo e tão sereno, planos longos e morosos, reino dos silêncios e da natureza, dos sons dela [e talvez memoria seja o seu filme mais sonoro porque parte da sua experiencia, a do som, e da sua decifração], respeito profundo pelo momento em si, pelo espaço e pela sua comunhão… o cinema de Apichatpong Weerasethakul é uma experiência mediúnica, coisa hipnotizante que cria conexões com o espectador… memoria é isso tudo e muito mais, carrega consigo uma portentosa actuação de Swinton… aquela postura e aquele olhar!... assim como uma luz enigmática e bela que vive não só nas suas imagens como na interpretação de Tilda. Portento de filme!

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