3 de junho de 2010

Молох - Molokh (1999)








A Molokh reconheça-se-lhe a genialidade de "pintar um quadro" dum dia das vidas de Adolf Hitler e Eva Braun. Baviera, no castelo alpino de Berchtesgaden, na primavera de 1942, Eva espera Hitler que chega com a sua comitiva (Goebbels incluído) para aí passar um ou dois dias sem se falar de guerra. Primeiro filme de uma trilogia (promessa de Sokurov num outro que há-de vir passando assim a tetralogia) sobre o poder, continuado por Telets (sobre Lenin) e por Solntse (sobre o imperador Hirohito). Comum a toda a sua obra está a reflexão da morte. E todos aqueles personagens (outrora reais) partilham entre eles esse pavor da morte. Molokh pinta esses momentos de forma poética e absurda, caracteriza aqueles seres como fantoches enfadados num dia supostamente isento de qualquer ligação com a guerra, mas que a essa pretensão foge quando o ditador "dispara" a sua ira contra Stalin e Mussolini.

Estudo dos sentidos, imagens duma cinematografia plástica a que o russo nos habituou. Filtros e cores, expressividade e sombras, planos-sequência e som. Molokh é uma procura dos sentidos, filme de angústias e ostentações, retracto da loucura e do poder, obra enigmática e macabra, reflexão hilariante do sentido mórbido do nazismo. Visão gélida do tédio e da vida, ritos dum propósito inerente ao amor, exploração temática da intimidade do ditador, domínio e alusão da mitologia ao qual o nome Molokh pertence, credo de alucinações e histerismos inerentes ao poder e à loucura, paradoxos, utopias. E a morte sempre presente.

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