23 de junho de 2010

Hamsarayan - O Coro (1982)


















Em Hamsarayan, Kiarostami apresenta dois ambientes opostos, o rural e o urbano. Convivem lado a lado, como convive o velho, protagonista da curta-metragem, com a falta de audição. Mas, se por momentos essa falta de audição lhe traz benefícios (quando tira o aparelho do ouvido para não ouvir o ruído citadino e o palrar aborrecido de um sapateiro de rua), Kiarostami traz também a situação que origina o tal coro (das crianças onde estão inseridos os seus netos) numa incessante tentativa de se fazer ouvir. Se num momento temos o lado benéfico da surdez (o silêncio absoluto que por vezes dá jeito), por outro temos a carência humana da audição, a necessidade que temos em ouvir. E nesses momentos em que a ausência de audição do velho está presente, Kiarostami mostra-a literalmente (ou melhor, sonoramente), porque temos mesmo uma completa ausência de som na tela. Ou seja, somos ao mesmo tempo espectador e protagonista, vivemos por momentos o que aquele velho vive sem audição (embora saibamos que os netos e todas as crianças que se lhes juntam estão na rua formando o tal coro na esperança de que o avô ouça e lhes abra a porta [e por isso somos ao mesmo tempo espectadores e protagonistas]). Hamsarayan vive da simplicidade com que trata a sua mensagem, da forma como trata o ser humano, como segue aquele velho e lhe tenta "ensinar" os dois lados dessa surdez.

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