28 de dezembro de 2010

Hoje ao rever o Perfume com a minha mais que tudo, constatei que há ali material para um grande filme, para algo memorável. Mas tudo se desvanece na realização do filme, no cuidado visual, no uso excessivo da banda sonora. Tanto embelezamento estraga o cinema, adultera o seu sentido. Uma história daquelas devia ser filmada friamente, cruamente. Sem embelezamentos, sem maquilhagens, sem musiquinha de fundo. Isso distorce o filme, estraga o cinema. Porque o sentimento que pretende demonstrar apresenta-se falso, forçado. Porque o cinema tem a capacidade de o demonstrar, mas tem de ser naturalmente, tem de ser sem artifícios, sem embelezamentos parolos.

6 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

Estou completamente de acordo! Eu tinha lido há uns anos o livro e quando vi o filme fiquei bastante desiludido, muito por causa de como o conteúdo foi transposto em imagens. E não foi daquelas sensações que o leitor tem quando se apercebe que há lá conteúdo que leu e não foi adaptado, mas sim o que tu escreveste no post.

Roberto Simões disse...

Suponho que te refiras ao filme do Tykwer.

Estamos de acordo que havia ali material para um grande filme. Basta ter conhecimento do romance para ter uma noção do quão aliciante poderia ser uma adaptação triunfante ao grande ecrã. Contudo, não creio que tenha falhado a fotografia, a direcção artística ou igualmente a banda-sonora; todos os elementos primam e exaltam a beleza e não creio que o filme tenha falhado por aí. Aqui estaremos irremediavelmente em desacordo, bem o sei, dadas as visões estéticas que cada um de nós defende ou adora.

No meu entender, o calcanhar de Aquiles do filme expõe-se a dois níveis narrativos. O do texto fílmico e a do texto propriamente dito, do argumento, uma vez que noto no realizador uma tendência para, às tantas, desenvolver a história por meio das imagens, ineficazmente, e não por meio das palavras, então necessárias. Às tantas há imagem e música a mais - belas que sejam - mas falta substância que só se colmataria com diálogos, com acção propriamente dita.

É a minha opinião.

Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD - A Estrada do Cinema «

Álvaro Martins disse...

Flávio, eu nunca li o livro mas é impossível não reconhecer que há naquela história potencial para grande filme. Mas não daquela maneira ;)

Roberto,
"Às tantas há imagem e música a mais - belas que sejam - mas falta substância que só se colmataria com diálogos, com acção propriamente dita." Os tais embelezamentos, os artifícios técnicos apurados a um sentido kitsch (ou quase). Aquilo que pretende ser poético e emocional, é na verdade uma tentativa falhada e irrisória (no cinema não bilheteira penso eu) de enaltecer não só o filme como o protagonista. A simplicidade é muito bonita Roberto ;)

João, sim há pior ;)

Roberto Simões disse...

Pois claro que é e não disse o contrário. O arrojo técnico e visual também é muito bonito. Às vezes, simplicidade pode ser arrojo, outras vezes não. O importante é que sejam bem aplicadas, tanto a simplicidade como o arrojo. Enfim, por aqui estamos em desacordo e os nossos pontos de vista são bem claros.

Gostaria de conhecer a tua opinião é no que se refere ao argumento, à narrativa e à questão que levantei no comentário anterior.

Cumps.
Roberto Simões
» CINEROAD – A Estrada do Cinema «

Álvaro Martins disse...

Roberto, eu não li o livro, portanto não sei se a condução narrativa é fiel ao livro. Mas quando digo que há ali material para ser um grande filme é claro que me refiro à história. E claro que os tais embelezamentos de que falo interferem na condução narrativa do filme (ou melhor interferem com tudo). Mas a história é boa. E a fotografia também (mal seria). Mas preferia que a fotografia fosse reles e não tivesse aquelas ornamentações delirantes e irritantes tanto visuais como sonoras, aquelas vulgaridades. Não digo que a intenção não seja boa, mas falha e muito.

Anónimo disse...

O meu comentário é o do João Conçalves.
Ia falar também no Kubrick e perspectivar o filme... :)