Aki Kaurismäki
Os primeiros planos de Sombras no Paraíso são de uma vitalidade incrível. A rotina diária de um homem do lixo ao som de jazz. Nesses minutos iniciais, filmados com a maior das serenidades, coloca-se a acção laboral (acção vigorosa e frenética, viva) em contraste com a música (o jazz sereno). Filma-se o homem e a sua acção, os seus movimentos. Frio e directo. E isso é habitual no cinema de Kaurismäki. Depois, é comum nos filmes de Kaurismäki os protagonistas serem indivíduos solitários e secos. Consequência que resulta na timidez e dificuldade em se relacionar com o sexo oposto. Mas geralmente são filmes de amor, comédias negras mas da descoberta do amor, da transição de seres solitários e inertes para o início de uma relação. E o resto nem interessa. Filmam-se duas pessoas, a sua condição social e individual e cria-se um relacionamento (frio e distante) num lento desenvolvimento apoiado pelo desenrolar da acção e das acções. Filma-se um povo frio como a condição climatérica da região, dois indivíduos fastidiosos como a circunstância social a que pertencem. Sim, há no cinema de Kaurismäki uma preocupação social, um neo-realismo seco e gélido como o clima da Finlândia. Mas tudo como suporte para o nascimento de uma relação. Varjoja Paratiisissa está tão próximo da realidade quanto distante, caminha pela desestruturação da inserção social pretendida para terminar num fim utópico e feliz (símbolo do recomeço) distante dessa hipotética inclusão social. O amor acima de tudo. Mas sem sentimentalismos baratos, sem histerias ou embelezamentos desnecessários. E a música é um requinte ora de jazz ora de blues. Isto sim vale a pena ver.
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