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29 de setembro de 2011

Leningrad Cowboys Go America (1989)
Aki Kaurismäki

Se há influência que se note em Leningrad Cowboys Go America é a de Jarmusch (e a dada altura o cineasta americano aparece mesmo como um vendedor de carros numa sucata), principalmente naqueles travellings e em todo o absurdismo da história. Mas Leningrad Cowboys Go America não é nenhuma comédia negra à imagem do que Jarmusch faz, pelo contrário, é coisa hilariante, com uma certa similaridade a Kusturica (não tão excessivo), um road movie com tons de sátira, seco e com tudo o que caracteriza o cinema do finlandês, a frieza e a inexpressividade dos personagens que só acentua a ridicularização e o absurdo da narrativa.

1 de dezembro de 2010

Varjoja Paratiisissa - Sombras no Paraíso (1986)
Aki Kaurismäki

Os primeiros planos de Sombras no Paraíso são de uma vitalidade incrível. A rotina diária de um homem do lixo ao som de jazz. Nesses minutos iniciais, filmados com a maior das serenidades, coloca-se a acção laboral (acção vigorosa e frenética, viva) em contraste com a música (o jazz sereno). Filma-se o homem e a sua acção, os seus movimentos. Frio e directo. E isso é habitual no cinema de Kaurismäki. Depois, é comum nos filmes de Kaurismäki os protagonistas serem indivíduos solitários e secos. Consequência que resulta na timidez e dificuldade em se relacionar com o sexo oposto. Mas geralmente são filmes de amor, comédias negras mas da descoberta do amor, da transição de seres solitários e inertes para o início de uma relação. E o resto nem interessa. Filmam-se duas pessoas, a sua condição social e individual e cria-se um relacionamento (frio e distante) num lento desenvolvimento apoiado pelo desenrolar da acção e das acções. Filma-se um povo frio como a condição climatérica da região, dois indivíduos fastidiosos como a circunstância social a que pertencem. Sim, há no cinema de Kaurismäki uma preocupação social, um neo-realismo seco e gélido como o clima da Finlândia. Mas tudo como suporte para o nascimento de uma relação. Varjoja Paratiisissa está tão próximo da realidade quanto distante, caminha pela desestruturação da inserção social pretendida para terminar num fim utópico e feliz (símbolo do recomeço) distante dessa hipotética inclusão social. O amor acima de tudo. Mas sem sentimentalismos baratos, sem histerias ou embelezamentos desnecessários. E a música é um requinte ora de jazz ora de blues. Isto sim vale a pena ver.

14 de novembro de 2010

Rikos Ja Rangaistus - Crime e Castigo (1983)
Aki Kaurismäki

O que Kaurismäki faz em Rikos Ja Rangaistus (o seu primeiro filme) é, à semelhança do que Bresson fez em L’Argent, deambular por entre terrenos Dostoievskianos (em L’Argent eram Tolstoianos), adaptando à modernidade a procura da compreensão da mente humana e das razões que conduzem ao homicídio. A complexidade da mente humana. A morte como castigo supremo para os erros humanos. A legitimidade das razões (ou o que se assemelhe a tal) que conduzem ao crime interrogadas pelo próprio indivíduo. Porque o que se pergunta aqui é como será o castigo ao invés de se questionar se haverá ou não castigo (mesmo Rahikainen demonstrando o desejo de fugir). Isto, porque o próprio criminoso está ciente de que tem de ser castigado, porque a culpa está bem presente nele (independentemente da primeira intenção ter sido a de matar o princípio, ao qual chega à conclusão de que não se pode matar o princípio sem matar o homem). Tudo como colmatação (e exasperação) dum vazio interior do indivíduo.

Ao ver Crime e Castigo (isto para quem conhece Kaurismäki) o que realmente importa (não descurando o referido no parágrafo anterior) é perceber a evolução do cinema do finlandês. E em Crime e Castigo podemos ver o início de um cinema muito particular (embora esteja muito enraizado no estilo do seu irmão, Mika Kaurismäki). Desde logo, a frieza do seu cinema está lá (embora aqui esteja também muito inerente à obra de Dostoievski), a ausência (ou quase) de emoções nas personagens. E isso é algo que define o seu cinema. O que falta em Rikos Ja Rangaistus é o humor negro que vemos em filmes como Mies Vailla Menneisyyttä, Laitakaupungin Valot ou Kauas Pilvet Karkaavat. Aqui (e talvez por ser uma adaptação) foge ao humor negro (salvo raras excepções). E a realização de Kaurismäki é fenomenal (principalmente em espaços fechados como aquela esquadra, os movimentos de câmara e os planos plongês dentro da esquadra, a forma como filma a tensão dos interrogatórios (ao qual contribui muitíssimo a falta de emoções dos personagens), a sequência inicial no talho, a música). Não será certamente o melhor filme de Kaurismäki, mas é um grande filme.

17 de janeiro de 2010

Laitakaupungin Valot (2006)
Aki Kaurismäki

Se há cinema frio como o gelo, esse cinema é o de Kaurismäki. Frio a todos os níveis, na construção das personagens, na condução narrativa. E essa frieza das relações inter-pessoais que o finlandês cria, contrasta com a verdadeira mensagem do filme, o cerne da questão de toda a obra. Porque, embora todo o ambiente, toda a construção narrativa e direcção de actores que Kaurismäki filma seja gélida e crua, o argumento de Luzes na Escuridão é, afinal de contas, sentimental, humano, delicado. Mas, além de expor o ridículo, o insólito, o finlandês condena a sociedade. E depois temos Koistinen, o espelho da solidão, da inércia e da inocência. Mas o mundo não é para os apáticos, para os inocentes. E Kaurismäki deixa isso bem claro.