Épico acima de qualquer outra coisa. A caminhada para a morte, a irremediável condição humana do título, a morte. O fim. Kobayashi fez algo grandioso, obra maior entre as maiores do género. A queda de um anjo (ou de Kaji). A guerra (com toda a carnificina e caos inerente) manifesta-se mortal e degradante. Sombras inquietas da luta pela sobrevivência, gritos de revolta pelos direitos humanos. Morte ao nacionalismo, fé no comunismo. Em quase dez horas divididas por 3 filmes, A Condição Humana é primordialmente um filme sobre as atrocidades da guerra (e de tempos em que a guerra se faz sentir, a recruta por exemplo). Ningen no Jôken é uma denúncia do ser humano. E por isso é um filme deveras pessimista. Sim, porque o ser humano é cruel. E o poder corrompe. Mas irónico é perceber que Kobayashi condena não só a guerra como o seu próprio povo. E por isso começa na exploração desumana dos japoneses exercida sobre os chineses e vai acabar (ou quase acaba) naquele campo de prisioneiros nipónicos. O feitiço a virar-se contra o feiticeiro. E Kaji vai sofrer isso na pele, vai perceber que todo o seu humanismo foi em vão, vai perceber que no meio de tanto horror, no meio de tanto caos, injustiça e desumanização o seu humanismo não tem lugar. Porque ali a sobrevivência grita mais alto, porque ali qualquer humanismo que exista esvanece-se nas sombras inquietantes da noite, no perigo da morte, na luta pela sobrevivência individual. E no meio daquilo tudo só o amor lhe dá forças para resistir. Até ao fim. Mas não se iludam, Ningen no Jôken é um produto novelístico (até pela própria condição de épico). E há no filme a constante presença desse peso. Mas nada que deprecie a qualidade do filme (ou dos três filmes). Porque há movimentos de câmara muito bons, porque há enquadramentos, planos fixos, picados, contra-picados… nota-se que Kobayashi sabia filmar. E aqui (ainda só vi estes) cheira muito a Ford e a Hawks. Planos e sombras, os cânticos. Filme de sombras, negrura. Tudo carrega o peso da destruição, da guerra, da morte. Mas mais importante, o sentido humanístico e integro de Kaji e a corrupção moral e ética do ser humano. Nada mais essencial que o sentido de injustiça, crueldade e desumanidade que acompanha o filme do início ao fim. A destruição de um homem. A luta permanente pela sobrevivência e pela humanidade.
7 de dezembro de 2010
Ningen no Jôken (1959/1961)
Épico acima de qualquer outra coisa. A caminhada para a morte, a irremediável condição humana do título, a morte. O fim. Kobayashi fez algo grandioso, obra maior entre as maiores do género. A queda de um anjo (ou de Kaji). A guerra (com toda a carnificina e caos inerente) manifesta-se mortal e degradante. Sombras inquietas da luta pela sobrevivência, gritos de revolta pelos direitos humanos. Morte ao nacionalismo, fé no comunismo. Em quase dez horas divididas por 3 filmes, A Condição Humana é primordialmente um filme sobre as atrocidades da guerra (e de tempos em que a guerra se faz sentir, a recruta por exemplo). Ningen no Jôken é uma denúncia do ser humano. E por isso é um filme deveras pessimista. Sim, porque o ser humano é cruel. E o poder corrompe. Mas irónico é perceber que Kobayashi condena não só a guerra como o seu próprio povo. E por isso começa na exploração desumana dos japoneses exercida sobre os chineses e vai acabar (ou quase acaba) naquele campo de prisioneiros nipónicos. O feitiço a virar-se contra o feiticeiro. E Kaji vai sofrer isso na pele, vai perceber que todo o seu humanismo foi em vão, vai perceber que no meio de tanto horror, no meio de tanto caos, injustiça e desumanização o seu humanismo não tem lugar. Porque ali a sobrevivência grita mais alto, porque ali qualquer humanismo que exista esvanece-se nas sombras inquietantes da noite, no perigo da morte, na luta pela sobrevivência individual. E no meio daquilo tudo só o amor lhe dá forças para resistir. Até ao fim. Mas não se iludam, Ningen no Jôken é um produto novelístico (até pela própria condição de épico). E há no filme a constante presença desse peso. Mas nada que deprecie a qualidade do filme (ou dos três filmes). Porque há movimentos de câmara muito bons, porque há enquadramentos, planos fixos, picados, contra-picados… nota-se que Kobayashi sabia filmar. E aqui (ainda só vi estes) cheira muito a Ford e a Hawks. Planos e sombras, os cânticos. Filme de sombras, negrura. Tudo carrega o peso da destruição, da guerra, da morte. Mas mais importante, o sentido humanístico e integro de Kaji e a corrupção moral e ética do ser humano. Nada mais essencial que o sentido de injustiça, crueldade e desumanidade que acompanha o filme do início ao fim. A destruição de um homem. A luta permanente pela sobrevivência e pela humanidade.
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Nunca antes um filme foi tão sublime, tão esplêndido. Magnífica obra-prima de Milos Forman que junta a melhor obra do realizador tal com...
4 comentários:
estas imagens não estão deformadas nem nada?
Não, é o formato.
O formato?
Só se existe uma discrepância entre o formato original do filme e estas fotografias - que sem dúvida estão mesmo deformadas
O formato de vídeo em que o filme estava quando as fotografias (do print screen) foram tiradas.
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