26 de dezembro de 2010

Léon Morin, Prêtre (1961)










Léon Morin, Prêtre é um filme ascético e poético. Acima de tudo, filme sobre a fé. Filme da palavra. O filme de Melville nada tem a ver com o noir de Le Samouraï ou de Un Flic. Nada. Léon Morin, Prêtre é filme de questões, é filme ambíguo. E essa ambiguidade traduz-se naquela relação que se cria entre Morin (o padre) e Barny. Porque a proximidade que se cria entre o padre e ela (fruto da insistência em querer converter Barny ao cristianismo) é confundida tanto por ela como por Melville (e a dada altura já não sabemos se o padre não está realmente atraído por ela). Porque o que acontece é que ela entra numa espiral de incerteza em que não sabe se ama Deus ou o padre. Porque aquele discurso do padre não é só sobre fé. É também revolucionário e nacionalista, é também moralista. Tudo o que Melville traz (e tudo envolto numa obscuridade sombria relativa não só à ocupação nazi como ao cristianismo) é criar questões existenciais e metafísicas sobre a fé, a religião e a atracção sexual. Existe, de facto, muitas semelhanças entre este filme de Melville e o cinema de Bresson. Não só a espiritualidade que o filme transpira como também a forma. Ou seja, aquilo que vemos, a relação entre as personagens, a atmosfera que é criada naquela relação, o sentido abstracto. Mas, sobretudo, o que interessa em Léon Morin, Prêtre é a fé, as imperfeições do ser humano, a procura da plenitude por parte de Barny com aquela relação intelectual e emocional que se cria entre ela e o padre (Belmondo numa grande interpretação).

Sem comentários: