The Limits of Control é um enigma para solucionar, um assassinato para cumprir. Um exercício de cinema. Mas tudo muito profissional, muito organizado. A forma perfeita de matar alguém, o crime perfeito. E a forma como Jarmusch cria o personagem de Bankolé é exímia, como que a satirizar o herói americano (a forma como Bankolé caminha, como age, a série de rituais por quais se rege e que definem não só o filme como o personagem – o pedir sempre os dois cafés em chávenas separadas, o comer o papel logo depois de o ler, o diminuto (quase nulo) diálogo com os seus contactos – e o absurdo que as situações acarretam). Silencioso, sisudo, concentrado e observador. A dada altura uns putos seguem-no até que lhe perguntam: “és um gangster americano” ao que ele responde “não”. Mas é-o, e mais, é-o estereotipado, mitificado. Por isso logo a desconfiança por parte dos putos.
The Limits of Crontol extravasa sobretudo arte e cultura. A pintura (cada quadro que Bankolé vê – um por dia – define o momento que está prestes a acontecer, define o enigma que está por resolver. E aqui a relação espaço/tempo vincada em cada momento no qual Bankolé visita o Museu da Rainha Sofia, em cada momento no qual aquele homem solitário visita um quadro por dia.); a arquitectura com todos os planos dos edifícios/monumentos/museus de Madrid e posteriormente de Sevilha; a música quando visita aquele bar em Sevilha onde pela primeira vez vemos Bankolé sorrir; e o cinema nas várias conversas (ou diria monólogos já que ele se limita a responder não à pergunta “Usted no habla español, verdad?” – “o código”) com os seus contactos, onde primeiro se fala de The Lady From Shanghai (por Tilda Swinton) e posteriormente num filme finlandês (por John Hurt). E a arte introduz-se dentro do enigma, participa desse enigma, ou melhor, evidencia indícios para a resolução desse enigma. Grande filme.
5 comentários:
Jarmusch no seu melhor!Vi-o no cinema, numa sala com meia dúzia de pessoas. A crítica também não foi muito favorável na altura...
Só pela fotografia e simbolismos o filme vale a pena. Jim Jarmusch e Christopher Doyle criam um enigma fantasticamente bem recriado, com um elenco de actores excepcional.
Manuela, não diria no seu melhor (gosto muito do Dead Man e do Down By Law), mas certamente um dos seus melhores.
Tiago, vale por tudo. Pelos silêncios, pela arte que emana, pelos planos que Jarmusch apresenta, por tudo.
Exactamente João :)
Achei o filme horrível e arrastado. Poderia ter os planos e a fotografia mais linda (o que não é o caso), mas a repetição de cenas chega a enjoar e o roteiro não encanta.
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