2 de abril de 2010

Le Sang d'un Poète (1930)






Le Sang d'un Poète é um filme expressionista, carregado de imagens e mensagens simbólicas e enigmáticas. Em cada take, em cada frame de Le Sang d'un Poète, a intenção de Cocteau é sempre a de expressar um mundo irreal do poeta, o seu mundo interior. Como Cocteau foi também poeta, diz-se de Le Sang d'un Poète um trabalho autobiográfico. Quiçá!
O primeiro filme da Trilogia de Orfeu é, sobretudo, um ensaio do cineasta sobre os seus medos e obsessões, irreal e ilógico. A crítica considerava-o como um trabalho surrealista. E quanto a mim, é perfeitamente legítima, tanto pelo simbolismo das imagens e pelo cariz enigmático que estas carregam, como pela possibilidade dum expressionismo aliado a um carácter surrealista. Mas, na verdade, Le Sang d'un Poète tem tudo o que uma obra expressionista deve ter, e, direcciona-se para uma veia mais abstracta ao invés da surreal. A cena do espelho reflecte toda a essência do expressionismo, a procura no interior do artista, no abstracto, na sua preocupação com a morte, na relação do artista com o seu lado mais emotivo, o recorrer ao simbolismo, as suas obsessões, a alienação do artista, etc. E este expressionismo que Cocteau apresenta aqui, distancia-se do expressionismo alemão, aproxima-se mais dum expressionismo já na altura quase extinto, ou seja, aquele que se ajustou a campos como a pintura, as artes plásticas, a literatura, etc. Por isso a confusão com o surrealismo. E por isso a eterna discussão sobre a verdadeira corrente artística do filme. Le Sang d'un Poète é uma obra singular, brilhante, seja expressionista seja surrealista. Quanto a mim, acho que Le Sang d’un Poète se pode classificar como uma obra-prima do expressionismo surreal e abstracto. Porque o filme tem tudo isso.

1 comentário:

(H)Olga disse...

Adorei este filme! Parabéns pela boa escolha.