13 de abril de 2009

A Clockwork Orange (1971)



Stanley Kubrick foi, para mim, o cineasta mais brilhante que existiu até hoje. A sua visão de um determinado tema era transposta para o cinema fabulosamente e unicamente. Nunca um realizador foi tão genial, tão profundo, tão irreverente, tão brilhante. Poderia estar aqui horas e horas a falar de Kubrick e todas as suas obras, desde “The Killing”, passando por “Lolita”, “Dr. Strangelove”, “Spartacus”, “Paths of Glory”, “Barry Lyndon”, “2001 A Space Odissey”, “The Shinning”, “Full Metal Jackett”, “Eyes Wide Shut”, até este “A Clockwork Orange”. Mas na verdade, “A Clockwork Orange” constitui com “2001 A Space Odissey”, “The Shinning” e “Full Metal Jackett” as obras máximas do seu cinema, não menosprezando as outras.
Mas, relativamente a este “A Clockwork Orange”, em português “A Laranja Mecânica”, Kubrick criou uma obra-prima sobre a violência. É um filme espantoso e lembro-me que quando o visionei pela primeira vez fiquei completamente extasiado, sem saber o que dizer. Sim, sem saber o que dizer, pois há filmes que têm esse poder. O poder de nos deixar em blackout.
“A Clockwork Orange” é como a moeda que falta a um coleccionador, preciosa. É como a mente humana, complexa. É como uma estrela, brilhante.
Ao que parece, Kubrick adaptou o romance homónimo de Anthony Burgess com Malcolm McDowell em mente para o papel de Alex. Penso até que Kubrick terá dito que se McDowell tivesse recusado fazer o papel de Alex, ele não tinha feito o filme. Uma coisa é certa, passados 38 anos da realização do filme, não imagino outro actor da época que superasse a prestação de McDowell. Interpretação fabulosa.
Stanley Kubrick, volto a referir, foi um génio da Sétima Arte. Ele construiu com este “A Clockwork Orange” uma arrojada e imponente crítica à sociedade americana e à geração de delinquência que se formava na época. Violento? Muito, não há como negá-lo, mas brilhante.
Polémico, frio e assombroso, “A Clockwork Orange” é isso tudo e ainda mais. É uma viagem pelos horrores de uma mente psicótica e pelas atrocidades depravadas e ultra-violentas de uma geração corrompida. É uma denúncia da hipocrisia social de uma época negra, caótica e condenada.
É com o percurso de Alex (Malcolm McDowell) que Kubrick nos mostra esse paradigma social. Alex, cuja música preferida é a Nona Sinfonia de Beethoven, é violento, sádico, irreverente e cruel. Ele é o líder de um gang, chamado por droogs, que vem do russo druk (amigo), onde Alex exterioriza toda a sua crueldade e malícia conjuntamente com os outros membros do gang. A linguagem utilizada por Alex e pelos companheiros, denominada de nadsat, é uma criação do autor do livro Anthony Burgess, onde mistura palavras inglesas, russas e calão.
A iniciação de Alex e o seu gang no mundo delinquente começa com roubos e acaba em violações depravadas, espancamentos e assassínios. Depois de ser traído pelos seus companheiros, Alex é preso e submetido a uma experiência perigosa e inovadora denominada Tratamento Ludovico, que tinha por finalidade eliminar essa vertente sádica e criminosa de Alex e criar uma aversão deste pela violência. Ou seja, uma espécie de “cura” para os psicopatas e criminosos em geral. Quando Alex regressa à sociedade, vai ter que lidar com essa hipocrisia que o rodeia, com essa violência psicológica, vingativa e hipócrita que abunda na sociedade.
Particularmente, sou da opinião de que a famosíssima cena em que Alex canta Singin’ In The Rain enquanto espanca um casal e viola a mulher está simplesmente magnífica. Nessa cena, Kubrick mostra toda a demência, toda a crueldade de uma mente depravada e psicótica.
Kubrick cria violência em toda a sua forma. Abunda crueldade, falsidade e horror. Emerge ironia, transpira demência. Ele protesta contra a sociedade, contra a política. Kubrick impõe-se contra uma sociedade que impõe valores imorais, que cria ela própria estes “seres”, que origina esta violência, este caos social e futuras demagogias.
Kubrick em perfeita sintonia com o cinema, com a arte. Assombroso.


18 comentários:

Argonauta disse...

filme mais polémico de sempre!!!

Roberto Simões disse...

«Assombroso», revolucionário, brilhante.
Um dos melhores filmes de sempre.

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Anónimo disse...

"Assombroso", realmente! Um dos meus preferidos, sem dúvida. Adoro o Alex e a excelente interpretação do MacDowell. Confesso que também não imaginaria o filme sem este actor. Um colosso!

Grande ideia: ver e rever Kubrick nos próximos tempos...

CAMP

Álvaro Martins disse...

Argonauta,

não concordo com essa afirmação. O filme mais polémico de sempre é e será o Saló do Pasolini.

Roberto,

estamos inteiramente de acordo.

CAMP,

É mesmo uma grande interpretação do McDowell. Nunca é demais ver esta relíquia.


Abraços

Unknown disse...

Pois, quanto a mim, Kubrick é de uma genialidade inacreditável. Tudo o que faz é perfeito, perfeito, perfeito. No entanto, os seus filmes nunca me conseguem deixar atónito (exceptuando Shining). Falha minha provavelmente. Pode ser que as seguintes visualizações mudem essas considerações.

Abraço

Argonauta disse...

não conheço esse filme, é porque não deve ser assim tão polémico kidding :P

Unknown disse...

Kubrick será sempre grandioso!

Álvaro Martins disse...

Fifeco,

pois, não sei que te diga. Tu é que o dizes, é falha tua :)lol

Argonauta,

já fiz um post ao Saló. E devias ver o filme, embora não saiba se tens "estômago" para o ver. :)

Victor,

completamente de acordo.



Abraços

Argonauta disse...

nunca nenhum filme me chocou, por mais violento, ou mais degradante que seja, porque sei sempre que é ficção lol, anyway depois de ter visto o 2 girls 1 cup nada me choca(caso não saibas é um video onde duas mulheres comem merda, literalmente)

Álvaro Martins disse...

Então vê o Saló e depois diz-me o que achaste.

Argonauta disse...

mas é um filme de terror??? um filme de terror tem que me fazer rir ao género do exorcista se não adormeço lol

Álvaro Martins disse...

Não, não é um filme de terror. É um filme que faz parte do movimento neo-realista que teve a sua origem em Itália.
Olha, vai a este link e lê:

http://alvaromartins.blogspot.com/2009/02/salo-o-le-centoventi-giornate-di-sodoma.html

Argonauta disse...

ok li agora o teu texto, já deu para entender e ainda mais depois de ver aquele trailer, que o filme tem pedofilia ou incesto e cenas por aí, vou arranjar e ver depois digo-te o que achei

Álvaro Martins disse...

Não. Nem pedofilia nem incesto. Tem depravações piores. Vê e depois diz-me o que achaste.

Álvaro Martins disse...

Olha, vai a este link que sacas aí o filme em poucos minutos e já com legendas em português.

http://www.megaupload.com/pt/?d=E2DKLCX9

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Anónimo disse...
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Anónimo disse...

já vi este classico no SBT! o filme é muito bom!mostrando toda a violência desse grupo de jovens que desrespeitam todos os limites e agridem as pessoas só por prazer até o lider do bando é capturado e passa por uma violenta lavagem cerebral que vai mudar seu modo de ver a vida! Marcos Punch.