20 de abril de 2009

Sátántangó (1994)

Um filme de Béla Tarr







Já referi várias vezes por esta blogosfera fora que o que mais admiro em Spielberg é a sua qualidade na arte de filmar, a sua capacidade de filmar um filme de guerra como se estivéssemos lá dentro, a sua genialidade em filmar seja o que for. Mas Spielberg comparado com Béla Tarr não é ninguém. Tarr é genial, é completamente extraordinária a sua maneira de filmar, de nos mostrar seja o que for. A maneira como ele move a câmara, como a desliza em sintonia com o que estiver a filmar, os takes longos e pausados que nos descreve todo o cenário, o perfeccionismo do húngaro…de génio.
“Sátántangó” é um épico de 7 horas e meia que mostra todo o talento de Béla Tarr. Obra-prima. Minimalista, contemplativo, rural, obra de arte do húngaro. Obra sobre a salvação, o falso messias, a redenção, o sacrifício, a esperança, o quotidiano, a morte, o trabalho, a promiscuidade. Filmado a preto e branco (Tarr só filma a preto e branco), “Sátántangó” é longo numa história que perfaz apenas três dias. Mas “Sátántangó” é perfeito. Li algures pela internet fora que Gus Van Sant é um confesso admirador de Béla Tarr e lembrando “Elephant” é perfeitamente visível essa influência. É compreensível essa admiração e aumenta ainda mais a minha consideração por tal cineasta (falo de Sant).


Mas Béla Tarr segue indubitavelmente os passos de Tarkovsky. Existencialista, naturalista, contemplativo e observador. Tarr filma as personagens com uma calma e lentidão que nos transmite todas as emoções destas. Mas a câmara raramente está parada. Sempre em movimento, lenta, numa procura de sensações quer humanas quer naturais. As paisagens, a chuva, os edifícios em ruínas, os ruídos, a música, o caos, o rigor com que Tarr filma todo o espaço inerente à obra e que nos transmite algo. Um cinema muito próprio, que a cada cena, a cada take, se define a si próprio. Mas o cinema de Tarr não é fácil, não é para qualquer um. Não existe nada neste cinema que se possa assemelhar às grandes produções de Hollywood.
Isto é cinema do mais puro e poético que existe.






11 comentários:

Unknown disse...

Béla Tarr é genial, sim.
No meu poiso já tenho falado dele - http://ohomemquesabiademasiado.blogspot.com/search?q=bela+tarr

Argonauta disse...

do spielberg adoro o the truck conheces?, este nunca vi

Álvaro Martins disse...

Victor,

já estive no teu poiso como lhe chamas e vi os teus posts referentes ao Béla Tarr. E concordo contigo quando dizes que é o provavelmente o melhor cineasta da actualidade.

Argonauta,

não conheço esse filme do Spielberg e não sou grande fã dele. Este é um filme húngaro e com 7 horas e meia de duração, por isso não é muito conhecido.

Abraços

Unknown disse...

E já viste o último do Tarr, "O Homem de Londres"? Fa-bu-lo-so. A Fnac vende o DVD por uns meros 8 ou 9 euros.

Argonauta disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Argonauta disse...

não é the truck chama-se duel, enganei-me, tens que ver é muito esquisito, é dos primeiros filmes dele, quase ninguém conhece mesmo.
7 horas?? mesmo assim não consegue superar os do andy warhol de 9 horas já viste algum??

Álvaro Martins disse...

Victor,

não digas a ninguém mas já o saquei da net há uns meses largos (eu sou cá do norte, de Bragança e cá não há Fnac, por isso é difícil arranjar filmes ao meu gosto sem ser pela net) mas não consigo arranjar legendas para o filme (não admira!!). Estou mortinho para o ver mas tenho que esperar por umas legendas em inglês (pelo menos) e depois vejo. Mas acredito que seja fabuloso. Béla Tarr é mesmo qualquer coisa de fenomenal.

Argonauta,

Duel? Não, não conheço. Do andy warhol não conheço nada. Pensei que o gajo só tivesse sido pintor.


Abraços

Argonauta disse...

também nuca vi nenhum, mas ele tem imensos mesmo o mais conhecido é o chelsia girls, empire( de 8 horas e tal), blowjob, e um filme também de 8 horas que consiste basicamente em filmar um amigo dele enquanto dorme lol

Álvaro Martins disse...

Filmar uma amigo enquanto dorme?!!! Qual é a ideia disso? Isso já é experimentalismo a mais. Não me agrada. Pedro Costa é o realizador, pelo menos que eu conheça, que mais experimental é no cinema, mas mesmo Pedro Costa não segue por esses caminhos tão dúbios. Este filme de Béla Tarr é longo mas de experimental não tem nada, é tudo feito com rigor, precisão, perfeccionismo. Béla Tarr sabe o que está a fazer e o que quer fazer. Ele não anda a experimentar nada. Este filme é perfeito.

Argonauta disse...

e o blowjob é um filme de 35 minutos da cara de um amigo supostamente enquanto recebe um broche lol. e o empire são 8 horas de filmes consecutivas do empire state building, e das pessoas que entram e saem.

Anónimo disse...

Acabei de ver ontem à noite cinco capítulos do Satantangó, do Bela Tarr. Sem legendas. Só em húngaro! (me parece). Os capítulos não foram vistos em órdem... E mesmo assim vi que é uma obra genial! Minimalismo perfeito.