22 de abril de 2009

Last Days (2005)

Um filme de Gus Van Sant









Incrível, impressionante este filme de Gus Van Sant. Como referi no post sobre “Sátántangó” de Béla Tarr, Sant é um confesso admirador do húngaro e neste “Last Days” essa influência, essa tentativa de Sant em se aproximar o mais possível do trabalho de Tarr, está mais presente do que noutro filme que tenha visto dele. Reconheço agora que era uma falha impressionante da minha parte esse desconhecimento total duma preciosidade como “Last Days”. “Elephant” já me tinha “aberto os olhos” para essa vertente de Gus Van Sant em aproximar o seu cinema o mais possível da arte de Béla Tarr, mas em “Last Days” é muito mais visível essa preponderância que o cinema do húngaro exerce sobre Gus Van Sant. Nesta obra estão presentes as características essenciais que distinguem o cinema de Béla Tarr doutro cinema qualquer. Os planos pausados, pouco diálogo, os ruídos, o som da natureza, das árvores, dos pássaros, o rodar lentamente da câmara sobre uma personagem, a procura de emoções, sobretudo a maneira de filmar do húngaro, tudo isso está presente nesta obra de Sant. É incontestável essa influência de Tarr em Sant. “Last Days” transpira Tarr desde o início até ao fim.
Gus Van Sant faz aqui uma homenagem ao grande ícone do grunge Kurt Cobain e explora os últimos dias de Cobain aqui personificado por Blake (Michael Pitt). Sant esforça-se ao máximo por uma analogia entre Cobain e Blake. E a verdade é que a consegue. Não há qualquer dúvida que Blake é Cobain. Acho que “Last Days” não pretende ser um filme sobre droga ou sobre o suicídio mas sim uma reflexão sobre a loucura, a mente humana, as depressões, sobre a própria conduta humana para com a realidade. Sant pretende explorar esse estado de inconformidade e inadaptação com o mundo que Kurt Cobain mostrava. A droga actua aqui como um escape de Blake para com essa realidade que lhe é cada vez mais estranha. Por isso a toxicodependência, o isolamento, a alienação, a queda abismal quer física quer psicológica que o arrasta para o suicídio como única alternativa de fuga dum mundo a que lhe é impossível adaptar-se.
O cinema de Gus Van Sant onde se inclui este “Last Days”, “Elephant”, “Paranoid Park”, “Gerry” (mais uma falha minha que pretendo colmatar em breve) é fabuloso, é arte, no entanto filmes como “Milk” “borram a pintura”.











16 comentários:

Argonauta disse...

já várias pessoas me disseram que o filme é um seca inclusive fãs de nirvana

LN disse...

Van Sant é Drugstore Cowboy e My Own Private Idaho.
O Elephant é péssimo.

Vê o 2:37 de Murali K. Thalluri e diz-me o que achas, comparado com o Elephant.

Filipe Machado disse...

Uma homenagem justíssima a este grande realizador!

Álvaro Martins disse...

Argonauta,

pois, para fãs de Nirvana talvez seja seca. Principalmente para aqueles que percebem tanto de cinema como eu de lagares de azeite.

LN,

confesso que nunca vi o Drugstore Cowboy, mas já vi o My Own Private Idaho e não gostei, fica muito aquém deste e do Elephant. Para mim. Esse 2:37 do Murali K. Thalluri nunca vi, vou tentar arranjar para ver e depois digo-te alguma coisa.

Filipe,

concordo plenamente.


Abraços

Roberto Simões disse...

Ponto nº1: MILK é um filme e pêras e só vem comprovar tanto a excelência como a versatilidade de Gus Van Sant. Que fique bem claro que o filme conta com uma narrativa muito bem escrita, uma realização brilhante e um sem-fim de aspectos técnicos que triunfam e pintam arte. Sean Penn está ... de outro mundo.

Quanto a LAST DAYS...

O filme é de facto assombroso. Gus Van Sant é um realizador daqueles... LAST DAYS é, como disse, assombroso.

Em muito inspirado pelo teu blog, vou seguir agora as visualizações de LAST DAYS (fi-lo hoje e criticarei em breve) e de GERRY (falarei também em breve dele... no sítio do costume).

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Álvaro Martins disse...

Roberto,

quanto a Last Days estamos inteiramente de acordo.
No entanto, no que diz respeito a Milk a conversa já é outra. O filme é sobretudo mainstream, cheio de clichés e como tal nunca poderei dar-lhe o valor que dou a Last Days, Gerry, Paranoid Park e Elephant. É claro que o filme tem uma boa realização, aspectos técnicos brilhantes e Sean Penn está muito bem, mas falta-lhe algo, falta-lhe sobretudo magia, a magia que fizeram de Gerry e de Last Days os seus melhores filmes. Milk peca sobretudo pela parcialidade que assume (já que ele próprio é gay, falo de Sant).
Mas isto é a minha opinião.


Abraços

Roberto Simões disse...

"Milk peca sobretudo pela parcialidade que assume (já que ele próprio é gay, falo de Sant)"

É hilariante.

Has-de contar-me, assim que puderes!, por que é que o filme é parcial por debruçar-se sobre a homossexualidade. Enfim...

É hilariante.

O problema deve começar por ser um biopic, género com o qual tens sérios problemas, já o percebemos desde outras conversas. Um biopic sobre homossexuais, então, deve ser-te um osso duro de roer. Mas a tua discussão com o Fifeco também já vai longa, no post do GERRY.

É interessante.

P.s. - «Mainstream» é óstia para Papa. Para bom entendedor...

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Álvaro Martins disse...

É parcial porque Sant faz um filme inteirinho a exaltar os direitos dos homosexuais e a fazer deles umas vítimas que não são. No final disto tudo, os maus somos nós que gostamos de mulheres.

"Um biopic sobre homossexuais, então, deve ser-te um osso duro de roer." - Nisso tens razão.

Quanto a
"«Mainstream» é óstia para Papa. Para bom entendedor..."

Não sou muito religioso e nunca gostei de óstias, por isso....


Abraços

Roberto Simões disse...

Não precisas dizer mais nada. Foste muito revelador.

...

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Roberto Simões disse...

Excusado será dizer que percebes tanto de homossexualidade como de lagares de azeite.

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Álvaro Martins disse...

Roberto,

nem pretendo perceber. É assunto que não me seduz.


Abraços

Roberto Simões disse...

Penso que um pouco de cultura geral não faz mal a ninguém, sobretudo quanto a sexualidade - que define o âmago do ser humano. Sem compreender a sexualidade e natureza humana, não se compreenderá muito o ser humano: ou seja, quem somos.

Tens toda a liberdade para te deixares seduzir pelos assuntos que achares importantes.

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Álvaro Martins disse...

Roberto,

Cultura geral é isso mesmo, um pouco de conhecimento sobre os mais variados assuntos, e não o conhecimento mais aprofundado de um assunto específico.
Quanto a este assunto em particular considero que sei o suficiente, ou seja, sei o que é e no que assenta a sua definição. Não necessito ser muito culto quanto à orientação sexual, cada um tem a sua e eu prefiro debruçar-me sobre a minha ao invés da dos outros.

Portanto, Roberto, no que diz respeito a cultura geral e sexualidade acho que estamos conversados.

Álvaro Martins disse...

E acho que não vale a pena "bater mais no ceguinho" porque já vi que nenhum de nós vai mudar a sua opinião relativa ao Milk. Cada um tem a sua visão e tem que ser respeitada.

Abraços

Roberto Simões disse...

Não estava de todo a debater assuntos infrutíferos nem despropositados, creio que não precisas solicitar o meu silêncio, ainda que discretamente, uma vez que estava a dar seguimento ao debate. Compreendo o teu desagrado.

Por fim, fica só a nota: é por tanta gente se debruçar apenas sobre as suas crenças e convicções que há tanta intolerância.

Tenho dito. Apenas voltarei a intervir caso me pareça novamente necessário, porque de resto penso que me expressei claramente.

Cumps.

Roberto F. A. Simões
CINEROAD

Álvaro Martins disse...

Roberto,

Penso que me interpretas-te mal. Nunca disse que eram assuntos infrutíferos ou depropositados, disse sim que vistas as opiniões opostas de cada um de nós, torna-se irrelevante discutir mais o tema, já que me parece indiscutível que não chegaremos a um consenso.

Sei que estavas a dar continuidade ao debate (assim como eu) e só te agradeço porque é o grande intuito de um blog, conhecer e dar a conhecer, ou seja, a troca de ideias e opiniões.

Espero que não tenhas ficado ofendido, pois se solicitei o teu silêncio foi, como te disse, com o intuito de terminar um debate no qual tive a percepção de que não chegaríamos a um consenso ou acordo.

"Por fim, fica só a nota: é por tanta gente se debruçar apenas sobre as suas crenças e convicções que há tanta intolerância."

Não há nenhum indivíduo no mundo que seja verdadeiramente tolerante.

Abraços