14 de janeiro de 2011

Hadewijch (2009)
Bruno Dumont

O último Dumont é um Dumont disfarçado, arrasa por completo toda a ambiguidade da fé sem escandalizar como o fez anteriormente. Disfarça-se e manifesta-se sempre distante do choque. É um filme tranquilo mesmo com toda a luta interior daquela jovem. Aproxima-se dum psicologismo existencial e material relativo à fé, às acções do ser humano e às escolhas deste. O cinema de Dumont sempre procurou encontrar quaisquer resquícios de violência no ser humano. Em Hadewijch isso está lá dissimulado, procurando a expressão em detrimento do choque, da crueza (não da imagem mas das emoções). Mas é tudo Dumont puro, a procura das iniquidades da humanidade sobretudo, a violência que todo o ser humano é capacitado, a mente humana. Dumont explora sempre isso nos seus filmes, o seu pessimismo na humanidade. Hadewijch é sobre uma jovem adolescente obcecada por Deus. Diz que o ama, que não pode deixar de o sentir. E para o sentir, para estar mais perto dele, erra no caminho, aventura-se no islamismo. Tudo resulta da sua constante distância da sua classe social, há ali alguma vergonha (leia-se também rejeição) pelo materialismo. Por isso as escolhas em prol desse desejo utópico do amor a Deus. E no final fica a redenção e a mais irónica das conclusões quando aquele homem acabado de sair da prisão a salva, a de que o bem está também no mal, ou melhor, a de que todo o ser humano é bom e mau.

12 comentários:

Álvaro Martins disse...

Aconselho eheh ainda que me pareça que é o filme mais fraco do homem. Mas Dumont é sempre Dumont ;)

Diogo C. disse...

Já se arranja em torrents?

Álvaro Martins disse...

Já, eu tenho-o do KG que o saquei de lá há meio ano praí (tive outro tanto à espera de legendas eheh) mas vai aqui:

http://pt.kickasstorrents.com/hadewijch-french-dvdrip-xvid-aymo-cvsj-t4801617.html

Legendas há no OpenSubtitles. Depois diz o que achas-te do filme ;)

Diogo C. disse...

Obrigado. ;)

Olha, por falar em achar, vi o Buried a meio da semana, pelo hype que tem, e já o mandei para a reciclagem. Achei-o mesmo fracote; pretensioso, chato, sempre a mesma treta da familia de coitadinhos que são o Cristo do sistema... Tanta coisa para dizer que o poder manda mais e melhor do que um sentido humanitário, no mundo moderno. Wow... Qualquer dia há por aí uma nouvelle vague de «filmes pós-11 de Setembro»... estou-te a dizer. Já não sei em quantos vai. E o pior é que não me lembro de nenhum decente, a não ser o Terra de Abundância, do Herzog, da colecção do Público de há uns tempos. Isto é preocupante. A América é vilão, é vítima... tem aqueles demónios todos concentrados... já enjoa...

Depois digo-te do Dumont.

Álvaro Martins disse...

O Terra de Abundância é do Wenders. O Buried gostei do filme, da forma como se filma, como prende, da angústia que consegue transmitir. Só isso. Mas sim tem essa falha grande, essa pretensão. E o actor também não é grande espingarda eheh.

LN disse...

Sim, do Wenders, my bad. Prende? Eu achei-o insonso mesmo. Nada de angústia. Mas que angústia? Eu sentia-me um pássaro a ver aquele xarope todo do camionista com a mulher e filhos. Isto, à beira de um Haze ( http://www.youtube.com/watch?v=LuibBbaB7as ), Evridiki, alguns filmes da new wave checa (anos 70), terror japônes, Lars Von Trier... é para terramotos de riso. Assim a chegar ao imbecil, irrelevante... por isso é que já o apaguei. De um ponto de vista técnico nem é nada que se apresente... há ali um deliriozito à Hitchcock (Vertigo), que ficou giro, mais nada... O Reynolds é um playboy sem classe. Mas o que mais me preocupa é a crescente degeneração do mainstream... a falta de cultura cinematográfica, de padrões qualitativos dignos, a falta de conhecimento histórico, da crítica e auto-crítica... como é que um filme daqueles torna-se num hype?! E dizer que já é um clássico e xaropadas do género?! Por ser filmado numa caixa? Achava bem mais interessante ver uma erva a crescer com textos de Platão narrados em voz-off. ;)

Álvaro Martins disse...

eheh essa do Platão e da erva...

Ó pá, eu não sou muito adepto de terror, de quando em vez é que lá vejo um. Por isso nesse campo sou bastante leigo. Não me interessa, não gosto muito de terror, desse terror gráfico japonês, dessas situações-limite, do incómodo que causam. Este Buried achei engraçado, bem conseguido. Agora, acredito que comparado com esses de que falas (vi o trailer do link e sim é bem conseguido) seja inferior.

Diogo C. disse...

Conheces o Audition, do Takashi Miike?

O terror japonês vai muito para além dessa cena narcíssica do gore. Isto até se passava mais com os primos surrealistas/neo-realistas italianos dos 70, que eu gosto muito (Argento, Bava, Cavara, Fulci...).

Álvaro Martins disse...

Sim, é verdade, por isso conheço relativamente pouco (Argento principalmente (que também gosto) e Bava). O mesmo pro Carpenter e pro Romero, também entram um pouco nessa espiral. Ando desactualizado nessa matéria mas qualquer dia remedeio isso. Mas é genéro que não me puxa, prefiro outro terror, mais físico entre as personagens, macabro, sei lá, acho que pôr gajos a jorrar sangue e coisas parecidas só por pôr é desnecessário. Reconheço-lhe a qualidade enquanto género mas não me puxa, sei lá. Também gosto de ver mas não os procuro tanto percebes? Já li qualquer coisa sobre esse Takashi Miike mas nunca vi nada. Fica a sugestão ;)

Anónimo disse...

Ainda não vi o Buried, mas acho que o Audition do Takashi Miike não tem aabsolutamente nada a ver com este filme. Mesmo sem ter visto este arrisco a dizer que são objectos artísticos completamente diferentes.
O Buried pretende acagaçar assim?? O_o

LN disse...

Neuroticon, eu não recomendei o Audition por ser similar ao Buried... não é, e ainda (muito) bem... recomendei para o Álvaro ter contacto com cinema de terror de qualidade superior... nada daquelas tretas gratuitas adolescentes... o Audition é muito muito bom.

Anónimo disse...

Pois é, muito bom mesmo :)
Mas terror também não é um género que eu aprecie por aí além :)