9 de dezembro de 2009

Moon (2009)

Um filme de Duncan Jones













Filme de estreia de filho de um dos nomes maiores da música pop, David Bowie. Duncan Jones estreia-se com um filme que nos deixa expectantes quanto ao futuro deste senhor. E são várias as analogias a 2001 A Space Odissey de Kubrick e a Solyaris de Tarkovsky. Moon é para já uma das grandes surpresas deste ano que finda daqui a pouco tempo. De facto, poucos são aqueles que conseguem ter uma estreia ao nível de Moon, arriscaria dizer que os que o conseguem tornam-se geralmente em grandes génios do cinema. Mas falando no filme propriamente dito, Moon reserva-nos algo a que não estamos habituados no mundo do cinema de ficção científica. Reserva-nos sobretudo uma moralidade e uma reflexão a essa moralidade. Jones mostra claramente a influência “Tarkovskyana”, eu diria até mais do que a “Kubrickiana”. Exemplo perfeito do que falo (referindo-me às visões de Sam) ocorre antes deste se queimar com o café e novamente antes de ter o acidente, criando notoriamente alusões à obra de Tarkovsky. O paralelo entre Moon e Solyaris estende-se ao ambiente criado por Jones que o prolonga até a um claro processo de união entre Solyaris e 2001. Desde logo somos presenteados com a audácia do britânico em se apoiar em duas das obras máximas da ficção científica. E desde logo também percebemos que não se trata de um simples filme do género. Á partida, somos confrontados com o término duma estadia dum período de 3 anos de Sam numa estação lunar. O desenvolvimento do início do filme remete-nos à rotina diária do único ocupante daquela estação. E é nesta fase inicial de Moon que o estreante cineasta se movimenta com mais clarividência em terrenos “Tarkovskyanos” e “Kubrickianos”. Não só explora desde logo esses delírios ou alucinações de Sam, como também nos remete a todo um ambiente e ritmo narrativo semelhante às duas obras que refiro.
Depois, Duncan Jones cria um filme sensível. Salvo raras excepções onde Sam e Sam se confrontam face ao choque da realidade, o cineasta reflecte sobretudo na amizade, na compaixão e num código moralista resultante dessa realidade que surpreende Sam. Talvez o mundo não evolua face a uma realidade que Jones prevê em Moon, mas é interessante ver as possíveis consequências resultantes de tal evolução. Não vou revelar aquilo que pauta a narração da história em respeito àqueles que ainda não viram. Portanto, em suma, Moon revela-se um extraordinário trabalho de estreia do cineasta britânico filho de Bowie em que toda a filosofia cinematográfica dos mestres em cima citados está exposta e explorada competentemente. Longe da perfeição de 2001 e de Solyaris mas, no entanto, muito bom filme que nos brinda também com uma magnífica interpretação de Sam Rockwell e com uma banda sonora portentosa de Clint Mansell.

3 comentários:

Pedro disse...

Aqui está algo que quero mesmo, mesmo ver.

LN disse...

Eu gostei quando o vi. Não é nada de especial, mas aguenta-se bem. O Sam Rockwell não é «o» gajo para este filme. Mas também não vejo quem o seja, tenha perfil para. Quanto ao resto, acho a linha poética/abstracta/filosófica minimamente interessante (ainda que pouco ou nada acrescente), mas no plano técnico tem deficiências. Torna-se previsivel, sempre com uma moralidade genérica. As alterações de humor soam estupidamente artificiais (ao que ajuda o carácter dramático meio de laboratório do Rockwell) - e esta é a maior falha, para mim. Nota-se bem que é um realizador novo, com muito para fazer até encontrar uma poética sui generis que o demarque, ou vai então «cair» na corrente comercial e fácil-lóide.

Álvaro Martins disse...

Pedro,
não percas tempo ;)

João,
também gostei bastante, mas não me entusiasmo assim tanto. Quanto a Jones, só os futuros trabalhos o dirão se é um nome a decorar. Este é uma excelente estreia, mas há muito cineasta que começou bem e depois apagou-se. Enfim, fico ansioso pelo seu próximo trabalho.

LN,
Sim, concordo com o que dizes. E é sobretudo essa moralidade genérica que limita o filme.