30 de dezembro de 2009

Career Girls (1996)

Um filme de Mike Leigh





Mike Leigh é o cineasta que mais se apoia na construção das personagens, que mais valor dá às interpretações. Basta ver a excelente interpretação de Sally Hawkins em Happy-Go-Lucky ou a interpretação de David Thewlis no Naked para ver o quanto a interpretação pesa para Mike Leigh. Greenaway é outro que aposta sobretudo na construção das personagens. Mas Greenaway é mais rude, mais barroco. Leigh tornou-se mais lírico, mais sensacionalista, mais artificial. Mas os primeiros trabalhos de Leigh distanciam-se e bem da recente filosofia cinéfila actual do inglês. Carrer Girls (Raparigas de Sucesso) é um deles. Um filme cru, um filme minimalista, um filme social. Digo social como estereótipo de Leigh, como temática constante em quase todas as obras do inglês. Mas Leigh continua ainda agora cinzento, descrente de uma melhoria social. Continua sobretudo obcecado pela classe média, pelos pormenores do dia-a-dia, pelos pequenos problemas do ser humano. E Carrer Girls faz parte talvez, juntamente com Secrets & Lies e Naked, do grupo dos melhores filmes de Leigh. E por muito que a interpretação de Hawkins em Happy-Go-Lucky seja brilhante, as interpretações de Katrin Cartlidge e de Lynda Steadman neste Career Girls não se ficam atrás. E Leigh faz um filme nostálgico. Mas a sua nostalgia é fria, é cheia de inseguranças, de arrependimentos e dúvidas. É uma nostalgia cinzenta, como o são quase todos os filmes de Leigh. Career Girls é sobretudo uma ode à amizade, uma história do reencontro, do avivar memórias. A nostalgia de Leigh.

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