Yasujiro Ozu
Não admira que Pedro Costa tenha Ozu como referência primordial no seu cinema. Não admira porque Ozu foi um dos mestres, um dos grandes mestres. E é perfeitamente visível essa influência no cinema de Pedro Costa. O cinema de Ozu é feito de pequenos contos de vida, das mais simples acções do quotidiano, desde a comédia ao drama familiar. E é essa (não só, mas já lá iremos) a razão da beleza do cinema de Ozu.
Bom Dia aclama a infância de forma extraordinária e serena. Num tempo onde a televisão era ainda novidade, duas crianças (irmãos) decidem fazer um voto de silêncio até que os pais (que se recusam) lhe comprem uma televisão. A televisão irá fazer um milhão de idiotas diz o pai. Mas o silêncio das crianças irá criar algum desconforto e burburinhos entre a vizinhança. Bom Dia expõe (muito levemente) uma certa dualidade do homem adulto. Ou seja, o que Ozu pretende mostrar é a disparidade entre a infância e a idade adulta. Isto, porque ao ultrapassar a infância o homem adquire uma certa hipocrisia que o permite enfrentar as dificuldades (económicas, sociais, pessoais e familiares) da vida. E a prova disso é a paixão que o professor de inglês sente pela tia dos miúdos e que, não só não quer assumir, como também recusa aceitar os seus sentimentos. Porque é aí que Ozu quer chegar, não só a uma perda da inocência mas também ao adquirir duma precaução. E esta precaução é um tipo de dissimulação. Mas mais do que o professor, em Bom Dia essa hipocrisia evidencia-se nas relações inter-pessoais entre vizinhos. E a candura da infância intromete-se (leia-se revela) nessa hipocrisia. Porque aquele voto de silêncio (que não é mais do que um protesto infantil para exercer pressão na entidade paternal) cria sobretudo (aliado às coincidências que Ozu cria) uma tese de desconfiança entre aquela vizinhança. Mas Ozu não quer criticar, quer mostrar. Ozu quer retratar a vida tal como ela é.
E a beleza do cinema de Ozu estende-se à sua arte de filmar, de encenar e dirigir actores. Porque Ozu foi o Ford japonês. Porque Ozu sabia enquadrar uma câmara como poucos o souberam. Porque o cinema não é só pegar numa câmara e filmar, é saber o que fazer com ela e como o fazer, é saber filmar. E Ozu sabia.
Bom Dia aclama a infância de forma extraordinária e serena. Num tempo onde a televisão era ainda novidade, duas crianças (irmãos) decidem fazer um voto de silêncio até que os pais (que se recusam) lhe comprem uma televisão. A televisão irá fazer um milhão de idiotas diz o pai. Mas o silêncio das crianças irá criar algum desconforto e burburinhos entre a vizinhança. Bom Dia expõe (muito levemente) uma certa dualidade do homem adulto. Ou seja, o que Ozu pretende mostrar é a disparidade entre a infância e a idade adulta. Isto, porque ao ultrapassar a infância o homem adquire uma certa hipocrisia que o permite enfrentar as dificuldades (económicas, sociais, pessoais e familiares) da vida. E a prova disso é a paixão que o professor de inglês sente pela tia dos miúdos e que, não só não quer assumir, como também recusa aceitar os seus sentimentos. Porque é aí que Ozu quer chegar, não só a uma perda da inocência mas também ao adquirir duma precaução. E esta precaução é um tipo de dissimulação. Mas mais do que o professor, em Bom Dia essa hipocrisia evidencia-se nas relações inter-pessoais entre vizinhos. E a candura da infância intromete-se (leia-se revela) nessa hipocrisia. Porque aquele voto de silêncio (que não é mais do que um protesto infantil para exercer pressão na entidade paternal) cria sobretudo (aliado às coincidências que Ozu cria) uma tese de desconfiança entre aquela vizinhança. Mas Ozu não quer criticar, quer mostrar. Ozu quer retratar a vida tal como ela é.
E a beleza do cinema de Ozu estende-se à sua arte de filmar, de encenar e dirigir actores. Porque Ozu foi o Ford japonês. Porque Ozu sabia enquadrar uma câmara como poucos o souberam. Porque o cinema não é só pegar numa câmara e filmar, é saber o que fazer com ela e como o fazer, é saber filmar. E Ozu sabia.
2 comentários:
Gosto tanto deste filme! Os concursos de peidos dos putos.. eheh. a cena da estação, os campos contra-campos ozuianos... Acho que é mesmo o meu preferido do japonês.. e bem vistas as relações entre ele, o Pedro Costa e o Ford..
Acho que o Costa é o negativo do Ozu, onde o japonês ilumina, o Costa escurece..
Já agora, neste filme a câmara não se mexe uma única vez, pois não?
Que me lembre, ainda não vi nenhum filme dele onde houvesse movimentos de câmara.
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