“- Amo o Exército.
- Mas o Exército não te ama.
- Amar não significa ser correspondido.
- Sim, mas tudo tem um limite.
- Quando se ama algo, tem que se ser grato.”
Aquilo que me agradou mais em From Here To Eternity foi a inevitabilidade do ser humano (e aqui mais directamente do militar). Sim, From Here To Eternity está repleto de grandes interpretações (Burt Lancaster, Montgomery Clift, Frank Sinatra, Donna Reed, Deborah Kerr, Philip Ober…), mas o mais importante é o sentido humano que todas as personagens acarretam (excluindo o Capitão Holmes e o resto dos oficiais). Existe ali muito Ford (demasiado até) no humanismo, no patriotismo, no sentido de dever, nos espaços e na relação entre as personagens, nos momentos de companheirismo. E daí resulta toda a inevitabilidade daqueles soldados, todo aquele caminho que necessitam percorrer até ao seu destino. Porque está traçado, porque tudo aquilo é uma questão de princípios (Prewitt recusa voltar a lutar porque cegou um amigo, o sargento Warden recusa ser oficial porque não gosta de oficiais). E Warden sabe isso quando no final diz “Não podias ser esperto, não é? Bastava teres lutado boxe mas não quiseste, seu teimoso”. Mas, acima de tudo, From Here To Eternity é um filme sobre o amor ao exército. O tal sentido de dever, a devoção. E Karen apercebe-se disso quando Warden lhe diz que não concorreu para oficial. “Não te queres casar comigo. Já estás casado com o Exército”. Karen tem razão. Esse amor (ou devoção) é mais forte que o amor por ela. Da mesma forma, Alma (ou Lorene) percebe que Prewitt nunca deixará de ser um soldado. Ele próprio diz várias vezes que ama o exército, que é um soldado. Aliás, quando ela lhe diz que não quer ser esposa de um soldado, a resposta dele é “Bem, é o melhor que te posso oferecer”. E a verdade é que tudo o que ele é deve-o ao exército. Por isso esse amor. Maggio é diferente, ele não pertence ao exército, é o oposto de Prewitt e Warden. Maggio é o ser inadaptado naquele mundo de militares. Há nele muita revolta contra o sistema do Exército (embora contida), e talvez por isso aquele destino trágico (como o de Prewitt mas por razões diferentes). From Here To Eternity é classicismo e blues numa história de amor ao exército e à pátria. Grandioso.
2 comentários:
Curiosamente sempre vi este filme numa perspectivia completamente oposta à que o Álvaro nos sugere, isto é, nenhum "amor à Pátria" e muito menos ao exército se me afigura neste belo clássico. Pelo contrário, é a função castrativa da instituição militar que tem aqui papel de destaque.
Aliás, o livro de James Jones, onde o filme é baseado, teve de sofrer diversas alterações quando Daniel Taradash escreveu o respectivo argumento de modo a que todo o negativismo que a obra destilava contra o exército dos EUA fosse mais ou menos camuflado para assim não haver grandes pressões militares que impedissem a rodagem do filme.
De resto é um belo filme, recheado de grandes interpretações, tal como o Álvaro refere. Ah, e tem aquela tal cena do beijo na praia, uma das imagens que se tornou num ícone do imaginário cinéfilo.
O Rato Cinéfilo
Em primeiro, nunca li o livro. Depois, essa função castrativa de que falas está lá (e não só relacionada com Prewitt como também com Maggio). Mas é indubitável esse amor à pátria e ao exército tanto por Prewitt (e depois de tudo o que lhe fazem) como por Warden, ambos preterem o amor ao exército. Por isso é de realçar o tal amor ao exército pela parte dos personagens do Clift e Lancaster. Sim, há negativismo (afinal isto é uma tragédia) e há uma leve crítica ao exército (embora eu ache que nem é tanto ao exército, pois Holmes é no fim justamente forçado a rescindir do lugar, portanto castigado), mas, quanto a mim, o mais importante a referir é mesmo essa devoção ao exército (mesmo com essa função castrativa de que falas).
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