Embora num registo completamente diferente (aqui trata-se do melodrama social), Lola pouco se distingue de Kinatay. Porque o tal caminho de auto-descoberta artística que Mendoza fala ganha aqui contornos mais evidentes, a tal influência do neo-realismo é aqui mais visível ainda. Lola é um filme perdido no tempo (e no vento e na chuva de Manila), filme de ambiguidades morais. Dum lado a morte, do outro o encarceramento pelo assassinato do primeiro. E nos dois lados temos as figuras patriarcas das famílias, as lolas (avós) que lutam cada uma por aquilo que o amor lhes pede. Mas se o que a morte traz aos familiares (além da dor) é o desejo de punição do culpado pelo acto criminoso do seu ente querido, a outra lola (sem que o sentido de justiça se intrometa) faz tudo para salvar da cadeia o seu. Moralidade (ou falta dela) inerente aos interesses de cada lola. E a angústia de cada uma na contenda pelo seu propósito, contra todas as adversidades (não esqueçamos o neo-realismo, se em Kinatay Mendoza apontava as suas “baterias” para a violência e a corrupção, aqui há toda uma série de carências sociais prontas a “combater” os esforços das duas lolas) das quais a escassez de dinheiro é figura central, torna ainda mais escuro (ainda assim não tanto quanto Kinatay) este melodrama social. Brillante filma a derrota (e a sua aceitação) e a vitória, filma a resignação e a recompensa, filma a dignidade e a perda dela. Porque a pobreza assim o determina. Porque as tempestades de Manila não são só de chuva e de vento, são de falta de condições e de miséria também. E o que aquelas lolas fazem é lutar contra as adversidades com as contrariedades que lhe são próprias da idade e da condição social, cada uma com o seu intuito mas ambas com amor pelos seus entes queridos (os netos). E se uma se engana nos trocos propositadamente, a outra aceita o dinheiro para o acordo amigável. Tudo porque sem dinheiro não há ética nem moral que resista. E porque, como disse o Carlos aqui, “os mortos leva-os o rio”.
13 de outubro de 2010
Lola (2009)
Embora num registo completamente diferente (aqui trata-se do melodrama social), Lola pouco se distingue de Kinatay. Porque o tal caminho de auto-descoberta artística que Mendoza fala ganha aqui contornos mais evidentes, a tal influência do neo-realismo é aqui mais visível ainda. Lola é um filme perdido no tempo (e no vento e na chuva de Manila), filme de ambiguidades morais. Dum lado a morte, do outro o encarceramento pelo assassinato do primeiro. E nos dois lados temos as figuras patriarcas das famílias, as lolas (avós) que lutam cada uma por aquilo que o amor lhes pede. Mas se o que a morte traz aos familiares (além da dor) é o desejo de punição do culpado pelo acto criminoso do seu ente querido, a outra lola (sem que o sentido de justiça se intrometa) faz tudo para salvar da cadeia o seu. Moralidade (ou falta dela) inerente aos interesses de cada lola. E a angústia de cada uma na contenda pelo seu propósito, contra todas as adversidades (não esqueçamos o neo-realismo, se em Kinatay Mendoza apontava as suas “baterias” para a violência e a corrupção, aqui há toda uma série de carências sociais prontas a “combater” os esforços das duas lolas) das quais a escassez de dinheiro é figura central, torna ainda mais escuro (ainda assim não tanto quanto Kinatay) este melodrama social. Brillante filma a derrota (e a sua aceitação) e a vitória, filma a resignação e a recompensa, filma a dignidade e a perda dela. Porque a pobreza assim o determina. Porque as tempestades de Manila não são só de chuva e de vento, são de falta de condições e de miséria também. E o que aquelas lolas fazem é lutar contra as adversidades com as contrariedades que lhe são próprias da idade e da condição social, cada uma com o seu intuito mas ambas com amor pelos seus entes queridos (os netos). E se uma se engana nos trocos propositadamente, a outra aceita o dinheiro para o acordo amigável. Tudo porque sem dinheiro não há ética nem moral que resista. E porque, como disse o Carlos aqui, “os mortos leva-os o rio”.
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Nunca antes um filme foi tão sublime, tão esplêndido. Magnífica obra-prima de Milos Forman que junta a melhor obra do realizador tal com...
4 comentários:
Adorei o filme. E sabes o que me consome nele, do início ao fim? A chuva, a chuva, a chuva. Que não pára, que nos faz sentir a dor de Lola, que nos faz ficar ensopados, que nos deixa estarrecidos.
A chuva e o vento ;) também gostei muito, muito mesmo.
Vou vê-lo ao cinema na próxima semana. Tenho um feeling de que vou adorar.
Também penso que vais adorar ;)
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