18 de julho de 2011

La Marseillaise (1938)
Jean Renoir

“- O que acontecerá se chegarem à estrada para Chalon?
- Bem, então eles continuarão até Paris.
- Isso sería o fim da nossa revolução e o nosso pobre Bomier terá morrido em vão.
- Não, não em vão. Mesmo se os canhões prussianos nos destruírem hoje, eles nunca destruirão o que trouxemos ao mundo. Repara, antes de surgirmos, as pessoas olhavam para a liberdade como um homem apaixonado por uma mulher, diante dela, proibido até de lhe dirigir a palavra, e, subitamente, graças a nós, esse homem pôde tomar sua amada em seus braços. É claro, ela ainda não é sua amante, ele terá que lutar antes de terminar a sua conquista. Mas agora eles se conhecem, mesmo que estejam separados eles se encontrarão de novo um dia.
- Javel! O que é que dizes disso?
- Eu digo que esses 20 mil escravos e 5 mil traidores além, jamais derrotarão 20 milhões de homens livres. Viva a liberdade!”

La Marseillaise de Renoir, tratando-se do que se trata (Revolução Francesa, queda da monarquia, valorização do cidadão e da nação), não podia ser filme mais lírico. Não sei quantas vezes a palavra cidadão bem como a de nação são ditas durante o filme, mas são muitas vezes, há necessidade de o fazer porque Renoir é isso que quer gritar neste manifesto da liberdade, do lugar do homem na nação, da unidade do povo, o patriotismo, a força e a violência como duas representações antagónicas mas absolutamente complementares, ou seja, naquele grupo de marselheses onde a utopia da liberdade e da igualdade total os move e os conduz a uma Paris a ferro e fogo com a monarquia e a aristocracia francesa, a violência recusa-se até ao limite embora a força como unidade de poder revolucionária seja demonstrada em cada palavra em cada acção daqueles homens vulgares que carregam consigo aquele que haveria de ser o hino nacional francês. E é também isso ou é sobretudo isso que Renoir quer mostrar ou analisar, um retracto de homens vulgares que também fizeram parte da revolução, que também sonharam e lutaram para concretizar esse sonho de conquistar a liberdade e a igualdade social. Mas aí, nessa igualdade que se pretende (ou pretendeu) conquistar, tudo se encontra (ou encontrou) utopicamente, ou seja, a tal igualdade ou unidade social (que ainda actualmente estão longe de se praticar seja em que sítio for, daí a utopia) são representadas por Renoir em oposição ao conflito de classes e a um antagonismo social. No entanto, aquele final onde os "nossos" marselheses vulgares esperam o sinal de ataque aos invasores prussianos e em que Arnaud profere o discurso em cima citado é a mais lírica e a mais bela antítese da utopia, é a certeza de que nada foi em vão, de que mesmo na presença da hipotética derrota há algo que foi alcançado, há algo que fica para o futuro. Nada mais patriótico e mais lírico e mais mítico que La Marseillaise, a constante presença do “liberté, égalité et fraternité” e do espírito revolucionário. Grandioso.

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