17 de junho de 2010

Samsara (2001)








Aproveitando a "embalagem" do filme do coreano Kim Ki-Duk, decidi ver Samsara, filme do qual já tinha ouvido falar muito bem e cujo visionamento já há bastante tempo ía adiando. Mal eu sabia o que estava ali, pois caso contrário, esse bastante tempo de adiamento sería bastante tempo de já o ter visto. Enfim, tudo isto para explicar o quão surpreso, agradado e maravilhado fiquei com esta obra-prima vinda da Índia. Samsara é brilhante em todos os aspectos, é fabuloso do início ao fim. Isto sim é cinema do mais "alto quilate".

Já não via daqueles planos, enquadramentos, aquela forma brilhante de filmar o céu e a profundidade de campo desde Ford. Pan Nalin mostra bem quais são as suas influências cinematográficas. Além de Ford, vemos muito Leone na forma de filmar as mulas (em Leone eram os cavalos) e as expressões faciais, vemos Tarr em alguns momentos onde se alude à mise-en-scène do húngaro. Mas sobretudo vemos uma forma de filmar estupenda, planos assombrosos, enquadramentos de câmara ainda mais lindos, uma fotografia maravilhosa, beleza paisagística. E só isto bastava para fazer de Samsara uma grande obra.

Mas Samsara vai mais longe, envolve-se numa odisseia reflexiva do verdadeiro sentido da filosofia budista. Samsara pode-se definir num monólogo (ou será diálogo?) do próprio filme "Até a Ele foi concedida uma existência mundana até aos 29 anos! Mas, desde que tinha 5 anos eu fui disciplinado a viver como Buda, após Ele ter renunciado ao mundo. Por quê? Como podemos saber que o Seu Iluminismo não foi também um resultado directo de Sua existência mundana? Apo, onde está a liberdade a mim prometida após a rígida disciplina monástica? E a prometida satisfação do nosso voto de celibato? "Não deves aceitar meus ensinamentos de pronto... a menos, e até, que os entendas do teu próprio ponto de vista", disse ele uma vez. Há coisas que devemos "desaprender" para poder aprendê-las. E há coisas que precisamos possuir para poder renunciar a elas.". E aqui está tudo dito. Samsara parte deste princípio para desenvolver uma narrativa linear sobre as escolhas dum homem que quis "conhecer a vida", dum homem (Tashi) que quis ser como Buda. Porque, como lhe escreve o seu mestre/Apo já perto do final, a grande busca de Tashi (outrora de Buda) é, saber "o que é mais importante, satisfazer mil desejos ou conquistar apenas um".
Obra-prima.

4 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

Excelente!! Vou sacar. Depois digo o que achei ;)

Álvaro Martins disse...

Eu gostei muito. Fico à espera da tua opinião :)

João disse...

Também vou sacar este, não conhecia e a tua crítica convenceu-me :)

Álvaro Martins disse...

Força João ;)