
































Vincent Canby não podia estar mais certo em relação a Chinesisches Roulette. O poder é, realmente, a grande preocupação de Fassbinder não só em Chinesisches Roulette como em quase toda a sua obra. E, como disse Canby, esse poder manifesta-se em Angela, essa adolescente diabólica e revoltada que apesar de se sentir oprimida pelos pais (legitimamente pois a mãe tem a convicção de que a filha lhe arruinou a vida), assume aqui também ela um papel de opressora (a tal "tyrannical teenage girl" que Canby fala) na sua relação, principalmente, com a mãe. Mas parece-me que o crítico do New York Times se esqueceu de atribuir aos pais esse poder de que fala. Porque toda a relação que assumem entre eles é esclarecedora disso. A relação extra-conjugal que os dois assumem já há anos (a do pai desde o acidente de Angela e a da mãe terá iniciado um par de anos mais tarde) são o reflexo desse poder efémero de quem quer compensar a amargura e o desgosto de ter uma filha semi-paralítica.
Mas Canby tem ainda mais razão quando diz que, a força de Chinesisches Roulette está mais latente no estilo do filme (que é como quem diz na realização). E, de facto, a forma como Fassbinder movimenta a câmara em torno daquelas personagens é fenomenal. O rodopio, o enquadramento, o aproximar/distanciar da câmara, a fixação nos rostos ou nos olhos daquelas personagens e o ritmo com que filma são a grande força de Chinesisches Roulette. Porque, com esta mise-en-scène, Fassbinder está sempre à procura de captar as emoções daquela gente, querendo mostrar as suas reacções àquele episódio e, sobretudo, a forma como Angela manipula os pais.
Chinesisches Roulette apresenta-se como uma tragicomédia (sarcástica) filmada de forma inaudita. Grande filme.
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