16 de julho de 2011

山の音 Yama no Oto (1954)
成瀬 巳喜男 Mikio Naruse

Yama no Oto tem a doçura do cinema de Ozu, sobretudo naqueles momentos iniciais e nos finais, na relação entre nora e sogro, aí tudo é tranquilo, momento do paraíso ou da candura, beleza Ozuiana pelo olhar de Naruse, coisa repleta de compaixão e de ternura. Mas o cinema de Naruse expande-se muito mais para lá de qualquer paralelismo com o de Ozu (embora no fim de contas esteja lá todo o lirismo tanto de Ozu como de Mizoguchi). Em Naruse tudo é negro, socialmente negro, lúcido, realista, preocupado com o dia-a-dia da classe média (à imagem de Ozu sim). Yama no Oto é a história duma mulher, dum casamento destroçado pela mentira, pela traição e pelo desejo (ou a falta dele). São os problemas conjugais que Naruse quer explorar, acima disso é a condição social da mulher. E é aí que a negrura de Naruse irrompe, na relação indiferente e cruel do marido para com a mulher. Mas depois, algo que tanto em Maihime como em Ani Imōto não havia, Naruse cria um personagem masculino que corrobora aquilo que nos parecia ser a sentença do cineasta, a total iniquidade masculina (logo no inicio, numa conversa entre Ogata e o filho sobre a sua amante, quando este lhe pergunta ao pai se nunca teve uma amante a resposta dele é “Sinto muito desapontar-te”). Em Yama no Oto, o sogro de Kikuko demonstra uma sensibilidade e um sentido humanístico impensável num personagem masculino de Naruse. Mas o cinema de Naruse é invariavelmente um cinema pessimista, socialmente pessimista, negro e caótico, sempre preocupado com o destino e a condição da mulher, quer social quer familiarmente, embora neste filme se chegue àquele final onde sogro e nora se encontram para irradiar toda a tranquilidade toda a serenidade e harmonia que até aí só os dois a sós a demonstraram e, dentro de todo o pessimismo confirmado naquelas palavras de Kikuko, eclodir ali, na beleza e na tranquilidade da natureza (bem no meio de Tokyo) daquele parque, todo o lirismo que o junta ou assemelha aos nomes maiores do cinema clássico japonês, Ozu e Mizoguchi.

3 comentários:

Álvaro Martins disse...

Por uma curta chamada "Koshiben gambare" ou pelo "Maihime" (Dancing Girl).

Pedro Teixeira disse...

Também tenho de descobrir este Mikio Naruse, que acentua mais ainda o cinema japonês dos anos 50 e 60 feito de grandes pérolas.. fiquei com muita curiosidade :)
Dizes "aos nomes maiores do cinema clássico japonês, Ozu e Mizoguchi". Acrescento o grande Kurosawa! :P

Abraço

Álvaro Martins disse...

Sim, o Kurosawa também, embora o considere inferior a esses dois (por isso a ausência da referência no texto eheh) ;)