3 de julho de 2011

Little Odessa (1994)
James Gray

Little Odessa é talvez (e este talvez tem muita mas muita força) o melhor filme de James Gray, o mais negro, o mais trágico (e a tragédia pressentimo-la desde o primeiro momento em que o regresso é falado), o mais caótico, o mais sagrado dos filmes de Gray. Não é um bom nem um grande filme, é uma pequena (de “little” porque na verdade é grandiosa) obra-prima, coisa tão vertiginosa, tão brutal, tão maldita. É tudo pleno de fugacidades, desde o regresso ao bairro até àquela paixão efémera, últimos momentos, tudo tão negro e tão implacável quanto a alma de Joshua, ser errante que tenta o recomeço na família (por mais que o pai o rejeite). É aí que Little Odessa encontra o sagrado, na família, na mãe e no irmão, é aí que se encontra a única réstia de amor, de afecto de Joshua, a família tão lá no alto, coisa que vem de Ford e de Visconti (Ozu é outro mas doutra forma), sagrada. Por isso ele vai ficando e ficando, à espera da morte da mãe, por isso é tão importante o reencontro com ela, pelo perdão, pelas palavras, confissões, último adeus, olhares e aconchegos. É só ela e só o irmão que o fazem homem e não pedra (ainda que o amor por Alla vá crescendo), por isso aquele momento final em que os três se juntam como que numa metáfora da sua morte (não necessariamente física), a frieza total, a morte do pouco amor que lhe restava, coração-pedra finalmente, o olhar final consumido pelo caos, o mesmo caos que deixou ao ir embora e que reencontrou no regresso, o caos da tragédia, da maldição, ausência total de redenção, submersão abismal nas trevas, condenação total.

6 comentários:

Sam disse...

Fabuloso!

Álvaro Martins disse...

Sem dúvida João, não é para qualquer um e concordo plenamente deque são os dois melhores talentos americanos "recentes".

Sam, indubitavelmente.

João Palhares disse...

Tenho que vê-lo urgentemente! :)

Álvaro Martins disse...

Acredita que sim João ;)

Carlos Natálio disse...

Nunca vi, tenho de ver este.

João Palhares disse...

Vi ontem. Continuo a preferir o The Yards, mas é uma estreia invejável. E um filme extraordinário!