First Blood foi um dos “meus” primeiros filmes. Vi e revi, gostei e adorei, até um dia em que o detestei. Há coisa de dois anos, voltei a ver e voltei a gostar. Ontem revi mais uma vez e gostei ainda mais. O que interessa? Tudo, desde o primeiro momento que First Blood é um filme mítico, embrenhado num classicismo bruto, num humanismo (e na falta dele) que já pouco existe no cinema americano, é o espaço e o sentido de espaço que mais interessa, a brutalidade da violência como imagem da brutalidade da sociedade, a forma de se tratar um herói, não só como aquele xerife o tratará mas como a sociedade o trata (o próprio coronel que até ali o abandonou), esquecido pelo tempo e pelo espaço. O que há em John Rambo é a erosão e a explosão interior dum homem que face à injustiça daquele xerife traz de volta a guerra que até ali abraçou, é a irascibilidade do interior mutilado dum herói esquecido e abandonado, a solidão em todas as suas formas. E First Blood é tudo o que John Rambo é, algo esquecido e abandonado pelo tempo.
First Blood (1982)
Ted Kotcheff
10 comentários:
Ainda não vi o último mas conto fazê-lo em breve.
Gosto também muito deste "First Blood" :). E, tal como o João, também gostei do último Rambo, por vezes esquecido mas também um bom filme.
Vê Álvaro o último Rambo que vale a pena, nem que seja por relembrar e "reviver" essa mítica personagem eheh
Abraço
um dos melhores filmes de sempre.
Sim Pedro, assim que puder irei vê-lo.
José, não vou assim tão longe.
Nunca vi nenhum Rambo nem Rocky, sempre fui mais virado para Star Wars e Indiana Jones
Não concordo. Já não me lembro muito bem deste filme, mas julgo ser apologista de um "espirito militarista" e de uma reacção tipo "dente por dente" que, julgo, me pareceu demasiado fascista.
De qualquer maneira, nos meus registos, tem bolinha preta.
Acho este filme detestável, assim como qualquer Chuck Norris. O único Stallone que suporto é Copland. Rambo foi um subproduto típico do governo Reagan, síntese do que havia de pior nos anos oitenta, quase tão ruim quanto Rock, o lutador.
Mas um filme de extrema direita ganhar a vossa admiração me faz, cada vez mais, ficar admirado do poder mágico do cinema.
Enaldo, vais-me desculpar a linguagem, mas que merda é que a política tem a ver com o cinema? Ou melhor, o que é que o ser de propaganda (não me esqueci dos do Dovzhenko eheh) ou de extrema direita ou esquerda ou outra politiquisse qualquer diminui ou engrandece a qualidade do filme?
Comparar este filme ou o Rocky com Chuck Norris é no mínimo incauto e absurdo. Não gostares é uma coisa, eu próprio, como já referi, o odiei em tempos. Hoje vejo-o com outros olhos, despretensiosos, olhos atentos ao filme em si, à história, ao classicismo do filme (aqueles minutos iniciais são brutais). O que interessa ali não é a violência mas sim o que causa a violência, as metáforas que são criadas (sejam de esquerda ou de direita ou do centro)... O Rambo não é pior nem melhor que um filme do Peckinpah, aí também há muita violência, desmesurada. O que interessa são os valores e a forma como são filmados, o humanismo que há ali, a solidão, a violência como coisa já inata naquele homem, sei lá, tanta coisa para analisar. Não é nenhuma obra-prima, não é nenhum grande-filme, mas também não é aquilo que muitos "pintam", é um bom filme. Isto é a minha opinião é claro!
O Copland é um bom filme sim, mas nem por isso é melhor do que este ou do que o Rocky que para mim é o melhor filme com o Stallone.
Concordo em linhas gerais com o que disseste, mas a abordagem política está sempre presente nas suas análises, a menos que a crítica ao capitalismo que tanto aprecias ( fazer a crítica, não o sistema em si,rs...)não lhe pareça uma postura política.
Tenho para mim que você é dos cinéfilos mais exigentes e cultos, capaz de perceber e irritar-se com os "facilitismos", uma palavra que não consigo apreender o significado exato em português brasileiro.
O meu estranhamento foi de admiração, não de desapontamento. Mas é como se a maioria dissesse: Blade Runner é 9 ou 10 e tu o disseste: dou-lhe 6 ou 7. E, continuando, a maioria (os que gostam de ver "bons" filmes, claro está) dessem 0 ou 1 para os Rambos, e tu: não, assistam com mais vagar e verão que é pelo menos um 5 ou 6.
Um grande abraço e vosso site é como um café com croissant nas manhãs parisienses,rs...
Antes de mais, obrigado pelo elogio, fico muito lisonjeado.
Depois, relativamente à abordagem política, uma coisa é estar sempre presente outra é tomar partido, denegrir ou enaltecer o objecto (filme neste caso) pela sua abordagem, ser partidário. Isso, penso que nunca esteve presente naquilo que escrevo (corrijam-me se estiver errado). Quanto ao capitalismo, é algo um pouco complexo na forma de lhe atribuir ou não uma compreensão política, isto porque, a meu ver, se é verdade que o capitalismo provém da política, neste caso, o cinema, é algo que “mexe” com a indústria, ou seja, a mercantilização ou a comercialização do cinema como coisa de massas deriva do capitalismo. Ora, se a comercialização como veículo principal e quase absoluto (nos dias que correm) para a produção, pós-produção e a conclusão da obra (filme) é aquilo que fundamentalmente “assassina” o cinema é legítimo ou penso ser legítimo fazer essa crítica sem que se lhe atribua qualquer conotação política.
PS: atenção que dou valor a este Rambo, o First Blood, o resto não merece sequer ser referido, mesmo o último que vi recentemente e o qual me pareceu mais do mesmo (do segundo e do terceiro). Um abraço.
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