Bille August
Épico da crueza e da sobrevivência, Pelle Erobreren é qualquer coisa como um irromper do sol nas trevas, é um filme que, à semelhança das estações do ano, deambula entre o acaloramento do sonho e da esperança e a frieza e a negrura da realidade. Em análise, a emigração da Suécia para a Dinamarca, pessoas em busca de prosperidade carregando consigo ilusões duma vida melhor, dum futuro risonho e daquilo que na pátria não encontraram. A realidade, a triste realidade, opõe-se ao sonho, afigura-se negra e caótica e composta por uma quase escravidão de classes. Aquilo que Lasse e o filho Pelle encontram na “terra prometida” é apenas ilusões e crueldades humanas que dissipam qualquer sonho do homem, mundo de servidões escravizadas e explorações humanas que decepam o homem e a sua esperança. É o que acontece a Lasse (uma grande interpretação do grande Max Von Sydow), que de confronto àquela dura realidade vai gradualmente perdendo a esperança e a coragem de enfrentar a crueldade e mergulhando no caos do álcool e da resignação. Por isso o vaguear da obra entre o sonho e a resignação, porque ao contrário do pai, Pelle nunca perde a esperança e alimenta em si o sonho de um dia partir e, como Erik lhe falava, conquistar o mundo. Esse conflito entre os dois, ou essa disparidade de encarar a realidade e o mundo que existe entre pai e filho, terá o seu culminar naquele final dramático e épico onde o sonho se torna realidade. Bille August filma esta história de diferenças sociais e étnicas e de ilusões quebradas de forma irrepreensível, segura, recorrendo à beleza paisagística que oscila entre a vivacidade dos campos amarelados das segadas ou do verde primaveril e a fragilidade do manto branco e do gelo dos invernos nórdicos. Ainda que aliado a um realismo cru e frio que acentua a crueldade e as adversidades da vida, Pelle Erobreren é uma ode singela e portentosa sobre a esperança e a determinação do ser humano.
3 comentários:
Vi este filme recentemente e gostei bastante, faz lembrar um pouco o 1900 já que a época é mais ou menos a mesma e são ambos passados numa fazenda, mas com um argumento completamente diferente, o Max von Sydow é espectacular como sempre e o miúdo é sem dúvida umas das melhores prestações que vi por um actor tão jovem o que é raro. Em geral é um filme bastante bom certamente melhor que muitos que ganham a palma de ouro nos dias de hoje, mas enfim cannes já não é o que era.
Muito bom!
Argonauta, a mim fez-me lembrar (e muito) o Kes do Loach ;)
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