30 de agosto de 2010

Tini Zabutykh Predkiv - As Sombras Esquecidas Dos Nossos Ancestrais (1964)

Conto de lamento e melancolia. Tini Zabutykh Predkiv é, antes de mais, uma obra-prima e, daqueles que vi de Parajanov (junte-se-lhe a este Sayat Nova e Ambavi Suramis Tsikhitsa), aquele que me agradou mais. Conto trágico dos Cárpatos, nas suas montanhas onde (logo no início do filme) nos é indicado de que é “lugar esquecido por Deus e pelos Homens”. Mas isto não é um conto qualquer (tome-se-lhe a semelhança com Romeu e Julieta ainda que o Romeu deste conto (Ivan) tenha a audácia de viver depois da morte da sua amada), As Sombras Esquecidas dos Nossos Ancestrais é, além da (talvez) mais trágica das estórias, uma obra repleta de tudo o que a Parajanov é próprio. E quem leu o meu texto sobre Sayat Nova sabe do que falo. O que (ainda assim) distingue Tini Zabutykh Predkiv de Sayat Nova (e, de certa forma, de Ambavi Suramis Tsikhitsa, embora este seja já uma mistura [ou chamemos-lhe complementação] dos dois anteriores) são os magistrais movimentos de câmara que Parajanov nos traz, são as cores e o seu uso.

O que está em questão nesta estória é o relato ou a simbolização (este mais adequado por todo o simbolismo que o cinema de Parajanov acarreta) do amor verdadeiro, do amor puro. E o amor de Ivan por Marichka resiste até ao destino. Porque Tini Zabutykh Predkiv fala desse poder inflexível do destino. E o destino de Ivan é trágico. Mas o seu amor por Marichka caminha sempre com ele, mesmo quando se casa com Palagna. E há nesse amor e nessa conduta pessoal e íntima de Ivan uma certa força de dignidade ou fidelidade (relativa ao amor por Marichka pois Ivan nunca chega a ter realmente desejo por Palagna).

E Tini Zabutykh Predkiv era já aquele cinema muito próprio, muito artesanal, simbólico e primitivo que vemos em Sayat Nova (embora não tão radical esteticamente). Ritos de memórias em transfigurações pagãs e ortodoxas de constantes alusões às tradições e vida desses ancestrais, evocação lírica do amor eterno, mito e poesia imersos num primitivismo e simbolismo próprio de Parajanov. A comunhão entre o folclore e o ritual. Um filme visionário, uma fundamental obra-prima.

7 comentários:

Flávio Gonçalves disse...

Concordo em absoluto. Grande texto, parabéns :)

Álvaro Martins disse...

Obrigado Flávio ;)

Zé alberto disse...

Olá alvaro,

Vi este post sobre o filme do Parajanov e fiquei encantado com as imagens, tão de doçura, tão de magia de infância.

Parabéns pelo post, adorei mesmo!

Abraço.

Álvaro Martins disse...

Obrigado Zé, ainda bem que gostaste ;) Já agora, vê o filme, penso que gostarás :)

Zé alberto disse...

Sim Álvaro, adorava ver o filme, mas...onde o poderei baixar?

Álvaro Martins disse...

Aqui Zé:

http://myonethousandmovies.blogspot.com/search?q=Tini+Zabutykh+Predkiv

e o Sayat Nova também o encontras no My One Thousand Movies ;)

Zé alberto disse...

ops! desculpa Álvaro, realmente procurei no My one t. movies, mas, distraído como sou, procurei mal, e por isso não dei por ele. Já encontrei, mto obrigado.
Valeu!

Abraço!