8 de março de 2010

Le Fils (2002)





Le Fils é para mim a primeira experiência no cinema dos irmãos Dardenne. Experiência essa que se revelou extraordinária. Ao ver o filme lembrei-me muito de Alonso, do seu cinema paciente, realista, minimalista e humano. Mas o cinema de Jean-Pierre e Luc Dardenne é que influenciou Alonso (penso eu). E distancia-se na mise-en-scène, na condução da câmara sempre colada ao personagem, na moralidade inerente. Le Fils trata da perda, da dor da perda, da capacidade de perdoar ou de conviver com quem ceifou a vida daquele que lhe era amado. Le Fils é o trajecto de Olivier, a atitude de Olivier, a reacção de Olivier. Le Fils é Olivier. Tudo se resume à expectativa do perdão, à dualidade de sentimentos que Olivier tem face à convivência com quem tirou a vida do filho. Le Fils busca perdão, busca a racionalização em detrimento do sentimento, da dor, da perda, da raiva. Não consigo deixar de pensar que, se o filme fosse americano, haveria sangue, vingança. Mas não é assim, porque os Dardenne querem filmar a diferença entre o bem e o mal, querem filmar o homem e a sua conduta, a sua dor, a sua aceitação da realidade. Nada mais. Grande filme.

4 comentários:

Diogo disse...

Ah pá, finalmente viste Dardenne :) My precious haha.

Este Le Fils é incrivel, o meu terceiro filme favorito deles. Repara que a profissão não é ao calhas: carpinteiro. Carpinteiro, madeira, cruz... leva-te inevitavelmente a Cristo, à redenção, etc. Há muita coisa escondida neste filme, que só uma segunda vez sara. Os Dardenne desde sempre estabeleceram uma relação intelectual com o meio. ;)

A «perseguição» naquele armazem de madeira é uma das cenas mais memoráveis do cinema dos Dardenne.

Os Dardenne são a vida. Não há cá artificios.

Álvaro Martins disse...

É incrível sim senhor. Não tinha feito essa analogia da profissão, mas vedo bem tens toda a razão, leva tudo à redenção, ao perdão, a Cristo.
A perseguição e o resto, o filme é muito bom, a câmara dos Dardenne é excelente, a maneira como seguem o homem, como o filmam. Muito bom mesmo. Exactamente, sem artifícios.
Não está é fácil de arranjar filmes deles :(

Diogo disse...

Olha, o L'Enfant, que quanto a mim é o melhor deles, é o último da coleccção Ipsilon II, que supunho que estejas a fazer. O Rosetta também existe em DVD. Mas penso que na net não é muito dificil arranjar também, os Dardenne têm uma legião de fãs que seguem o trabalho religiosamente. Como eu.

É. Ninguem filma como os Dardenne. Por isso é que são mestres do «neo-realismo», uma espécie de pós-Dogma95. A câmara é como ritmo da acção... existem muito planos de grande excelência.

Álvaro Martins disse...

Sim, tenho comprado alguns. Esse quero-o comprar. Ainda ando a pesquisar, e no KG de certeza que se arranja, mas tenho que arranjar mais deles sem dúvidas.