Womb (2010)
Benedek Fliegauf
Aquilo que primeiramente se denota em Womb é a ausência dos movimentos de câmara à Tarr que Dealer e as curtas-metragens traziam (Tejút era já uma incursão no plano fixo embora aí se prefira falar no experimentalismo ou radicalismo do cineasta), ainda que todo esse universo do mestre húngaro se sinta presente no filme. Falo não só da lentidão como dos enquadramentos e do aspecto sensorial, ascético e melancólico que comprova a continuada influência de Tarr no cinema de Fliegauf.
Womb é um filme cinzento, coisa que acentua a melancolia e o ambiente depressivo que gradualmente vai crescendo. É aí, na melancolia, que tudo assenta e inclusivamente a ambiguidade e a imoralidade do tema se constrói e desenvolve. O que me parece, ainda que se possa atribuir uma conotação política relativa ao tema, que o que mais interessa ao cineasta húngaro seja a ambiguidade da questão. O que temos, construída nos alicerces da dor e da mágoa que a morte traz, é a tentativa duma mulher (que ao fim de doze anos ao voltar “a casa” para reencontrar o seu amor de criança o perde num abrupto acidente) trazer o seu amado de volta à vida. Resolução: clonagem. O que acontece ou o que Fliegauf explora é a ambiguidade do tema, a moralidade e a falsa satisfação (ou felicidade) que o acto trará àquela mulher, o egoísmo e a efemeridade que tudo representa, a complexidade que deriva da decisão, o que resulta num filme belo, melancólico e muito bem filmado que embora procure nunca alcança a redenção.
1 comentário:
Gostei imenso. Excelente fotografia e importante dilema ético.
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