Orson Welles
* “Certa vez, na costa do Brasil, eu vi o mar, negro de sangue, enquanto o sol desaparecia no horizonte. Paramos em Fortaleza e alguns de nós pescávamos. Consegui a primeira fisgada. Era um tubarão. Então veio outro… e mais outro. Todo o mar ficou repleto de tubarões. E continuavam a surgir. Já nem conseguia ver a água. O meu tubarão feriu-se no anzol e o cheiro a sangue enquanto se debatia deixou os outros loucos. Então as feras começaram a comer-se umas às outras. No seu frenesim, comeram-se a si próprios. Podia sentir o desejo de matar como um cisco dentro do olho, podia sentir o cheiro da morte a exalar do oceano. Nunca vi nada pior… até este pequeno piquenique. E, sabem, nenhum tubarão daquele cardume sobreviveu.”
O mais importante ou o mais assustador e brutal nos filmes de Welles é o seu olhar, o terror daquele olhar, o medo que o domina. Tudo naquele Michael de The Lady from Shanghai é pleno de lirismo, homem sonhador, idílico, cheio de esperança e de confiança em si, é tudo isso e toda a ideia do amor e da redenção que o consome, que o persegue, que o faz caminhar para o meio das trevas. Aí tudo é negro, subversivo, irascível, brutal tão brutal quanto as noites do Tabu do Murnau, tão psicótico e sensual envolto num noir classicista bruto que submerge nas trevas da paixão e do desejo que tudo turva ao homem, na cegueira que o domina e que o conduz para o terreno tortuoso que tudo confunde e tudo esconde, a delicadeza e a fragilidade daquela mulher (uma espantosa Rita Hayworth loura) que tudo ou quase tudo consegue daquele homem, nada das habituais femmes fatales, coisa tão próxima da Tierney do Laura do Preminger, aquela doçura do olhar dela, a fragilidade que se mistura com a sensualidade, o olhar dele de quem tudo fará para a ter e tudo espera dela mas que sabe que cada vez mais se afunda numa teia corrompida. É esse o olhar de Welles, a procura do refúgio que acaba no meio da traição e do crime, a culpa que virá da obscuridade de toda a viagem tortuosa que se inicia naquele cigarro oferecido logo no inicio, a beleza e a fragilidade a enfeitiçar o homem e a moldar os seus actos, a complexidade do mistério, o mergulho vertiginoso na negrura daquele cardume de tubarões* que culmina naquela espantosa sequência final dos espelhos. Brutal.
O mais importante ou o mais assustador e brutal nos filmes de Welles é o seu olhar, o terror daquele olhar, o medo que o domina. Tudo naquele Michael de The Lady from Shanghai é pleno de lirismo, homem sonhador, idílico, cheio de esperança e de confiança em si, é tudo isso e toda a ideia do amor e da redenção que o consome, que o persegue, que o faz caminhar para o meio das trevas. Aí tudo é negro, subversivo, irascível, brutal tão brutal quanto as noites do Tabu do Murnau, tão psicótico e sensual envolto num noir classicista bruto que submerge nas trevas da paixão e do desejo que tudo turva ao homem, na cegueira que o domina e que o conduz para o terreno tortuoso que tudo confunde e tudo esconde, a delicadeza e a fragilidade daquela mulher (uma espantosa Rita Hayworth loura) que tudo ou quase tudo consegue daquele homem, nada das habituais femmes fatales, coisa tão próxima da Tierney do Laura do Preminger, aquela doçura do olhar dela, a fragilidade que se mistura com a sensualidade, o olhar dele de quem tudo fará para a ter e tudo espera dela mas que sabe que cada vez mais se afunda numa teia corrompida. É esse o olhar de Welles, a procura do refúgio que acaba no meio da traição e do crime, a culpa que virá da obscuridade de toda a viagem tortuosa que se inicia naquele cigarro oferecido logo no inicio, a beleza e a fragilidade a enfeitiçar o homem e a moldar os seus actos, a complexidade do mistério, o mergulho vertiginoso na negrura daquele cardume de tubarões* que culmina naquela espantosa sequência final dos espelhos. Brutal.
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