Quando se sabe filmar a história é outra e este El Cielo la Tierra y la Lluvia é a prova disso. Há filmes bons e filmes maus, mas os que realmente interessam são os grandes filmes e as obras-primas como é o caso desta preciosidade chilena. E não é preciso 3D nem efeitos especiais. O que é preciso é saber o que se faz e fazer com o coração e não a pensar na merda do dinheiro que a merda do filme irá render. Desabafos, continuemos…
El Cielo la Tierra y la Lluvia é dos filmes mais bem filmados que já vi em toda a minha vida. Influência de Tarr é categórica (rodopios com a câmara em torno do personagem, o deslizamento da câmara, o filmar por trás o personagem a caminhar, a contemplação, o naturalismo, os próprios planos-sequência). Mas estende-se a Lisandro Alonso (no ritmo da narrativa, nos diálogos escassos, na desmesurada atenção que dirige para as mais insignificantes acções humanas, movimentos e expressões, o sentido rudimentar, a ausência de música como banda sonora comutada pelos ruídos dos movimentos humanos, pelos sons da natureza, pelos fechar e abrir portas e janelas, etc.) e a Angelopoulos (nos planos-sequência, nos travellings laterais que esticam o tempo e que observam, mais do que o personagem que seguem, os lugares por onde passa, na contemplação que tanto o grego como Tarr assumem nas suas obras). E portanto, por isso, estamos perante um filme magnificamente bem filmado. Porque, para além de adoptar um estilo contemplativo com os movimentos de câmara, ele contrapõe e alterna esses movimentos com planos estáticos e distantes lembrando Bartas. E planos fabulosos.
El Cielo la Tierra y la Lluvia é um filme cinzento. Tem cena num meio rural e a chuva é quase constante. Mas o que interessa em El Cielo la Tierra y la Lluvia é a humanização das personagens, é o encontro de duas almas solitárias que se complementam (e a morte da mãe inválida de Ana traz essa necessidade mais urgente em extinguir essa solidão, esse isolamento interior em que se protege). El Cielo la Tierra y la Lluvia é um filme enigmático (nunca chegamos a saber o que aconteceu a Marta, nem o porquê do seu comportamento), melancólico e ambíguo. Mas sobretudo humano e poético. Maravilha.
2 comentários:
E que grande vontade que me deu de ver JÁ este filme :D
Parabéns pelo texto ;)
Obrigado Neuroticon :) quanto ao filme, aconselho muito mesmo.
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