5 de julho de 2010

Lake Tahoe (2008)

Isto sim é cinema. Geralmente, é isto que procuro, este cinema contemplativo, reflexivo, moroso, sentimentalista mas não lamechas nem sensacionalista. Cinema a sério.

A Lake Tahoe associe-se um forte sentido de perda naquele adolescente que percorre o filme todo numa auto-descoberta pessoal, perda essa que se manifesta em vários sentidos. E Juan atravessa o filme inteiro sem um único sorriso no rosto. O amadurecimento precoce resultado duma perda. E só lá para o meio, quando Juan entra em casa e tenta falar com a mãe que está trancada na casa de banho, é que o cineasta mexicano nos começa a revelar o trauma que assola aquela família. Mas não se pense que o filme é choradeira e vitimização daqueles personagens afectados por essa perda. Lake Tahoe é um grande filme por isso, pela simplicidade com que conta uma história, pela forma como trata a morte, pelo cinema que apresenta.

Juan passa quase o filme todo na procura de uma correia de distribuição para o motor do seu carro após ter um acidente logo no início do filme. Acidente estúpido, revelador do estado de espírito de Juan. Mas, o mais importante é que a partir daí se constrói toda a história de Lake Tahoe. E Eimbcke trata de mostrar que o mundo continua. Porque nesta viagem que Juan inicia, na qual procura incessantemente uma peça para o motor do carro sem a qual este não funciona, o jovem vai conhecer três personagens no mínimo esquisitas e insólitas. Um velho e o seu cão (o qual lhe ensina mais tarde que por vezes é preciso abdicar daquilo [ou de quem] que se ama), uma mãe adolescente metaleira e um rapaz mecânico fã de Bruce Lee e karaté. E é com estas três personagens que o mexicano introduz um humor caricato (e muito próximo do non-sense) para contrastar com o ambiente desolador que se vive na casa de Juan.

Depois, Lake Tahoe apresenta uma mise-en-scène naturalista, contemplativa e minimalista. Mas a câmara não se move, aqui não há travellings nem planos-sequência. Eimbcke opta por uma câmara estática e distante. E geralmente intercala cada plano com o ecrã preto (penso que simbolize a perda, a morte). Grande filme.

2 comentários:

Carlos Natálio disse...

Tantos filmes e tão pouco tempo para os ver.

Álvaro Martins disse...

É bem verdade Carlos ;)