23 de janeiro de 2010

Aleksandra (2007)

Um filme de Aleksandr Sokurov

























Ora bem, como disse e bem Luís M. Oliveira, Aleksandra poderia muito bem se intitular de Avó e Neto. A relação entre estas duas figuras não se torna tão intensa quanto as dos filmes anteriores mas assume claramente uma relação forte, uma relação barrada pelo tempo e pelo espaço. E por isso a viagem da avó para ver o neto, para estar com o neto. Aleksandra é um filme sobre a guerra. É um filme sobre os militares russos. Todas as conversas de Alexandra com os soldados russos são o explorar desse nacionalismo, desse patriotismo ao qual os soldados russos estão agarrados. O filme é patriótico, disso não há a mais pequena dúvida. Sokurov afirmou (nem precisava) que considera a Tchetchénia sólo russo. Mas não é isso que evita a humanização do russo para com o povo Tchetcheno, não é isso que impede Sokurov de considerar a guerra como desnecessária, banal.
Mas Aleksandra é uma complexa elegia melancólica e espiritual do russo. E não é fácil decifrar todas as sensações que o filme transmite. A avó (uma Galina Vishnevskaya altiva, imponente, como que a misturar a personagem e a actriz ou melhor a cantora) passeia por aquele acampamento quase sem se dar conta da realidade, da guerra em si. Ou melhor, e indo novamente de encontro ao que o crítico do Público referiu, Galina percorre aquele sólo como sendo a Mãe Rússia, a avó de todos os netos. E a ideia com que fiquei é essa mesma, a de que Alexandra está ali para dar esperança e força aos soldados russos, como que a trazer a Rússia até eles. A pátria. O simbolismo da Mãe Rússia.
Mas Sokurov é um realizador espiritual e tal como Mãe e Filho e Pai e Filho, Aleksandra é uma experiência sensorial e metafísica do amor, o amor familiar. Porque todo o filme reclama amor, compaixão, mas relativamente ao conflito a frase mais esclarecedora da opinião de Sokurov sai da voz de Alexandra quando depois de um rapaz tchetcheno lhe dizer “queria que vocês, russos, deixassem nosso país livre”, ela responde “é mais complicado que isso”. Mas Alexandra trata da morte, da velhice, do amor familiar é certo, mas Sokurov incide sempre na matéria, nos elementos sensoriais, nessa passagem do tempo que como diz Alexandra “o meu corpo está velho mas a minha alma ainda podia viver mais uma vida”. É essa a complexidade de Sokurov, os movimentos da câmara e a textura plástica e de constituição de um quadro que o cinema do russo nos traz. Aqui, tal como em Mãe e Filho, a morte está sempre presente, sempre a caminhar por entre todo aquele pó e aquele ambiente paisagístico e naturalista.


Sem comentários: