Tetro é arte para desmitificar o mito. Mas não deixa de ser pretensioso, muito artificial, com muito enredo. Falta mais simplicidade na história, nota-se muita preocupação em provar algo. Sei lá, apesar de toda a mestria da câmara, do ambiente, falta mais simplicidade narrativa. Como já li por aqui, Tetro é demasiado artístico.
Qual é o propósito da vida? Não é uma pergunta fácil (já os míticos Monty Python brincaram com esta pergunta). E a resposta a esta questão é certamente aquilo que cada um de nós seres humanos procura. Na verdade, é uma questão subjectiva, pois cada um terá o seu propósito da vida. Mas, mais verdade ainda, tudo se resume à felicidade. Porque, afinal não é isso que todos procuramos? Niceland é uma fábula sobre o amor, sobre a procura da felicidade. Mas o cineasta islandês procura não se cingir a essa questão. Friðriksson tenta criticar a sociedade, o consumismo a que actualmente o ser humano está agarrado. E fá-lo de forma sublime, ligeira. Fá-lo ao criar instabilidades mentais nas personagens. Sabemos, à partida, que Jed e Chloe são deficientes mentais. Autónomos mas mentalmente lentos. Mas o cineasta nunca explora isso. Ele explora sim o ser humano, seja deficiente ou não (a exploração do consumismo e do materialismo social acontece na “catarse” do pai de Jed). Explora e reflecte nas relações pessoais do ser humano, na angústia da tristeza, na amizade. Mas Niceland tinha potencial para ser melhor. Perde-se sobretudo na história, na questão do sentido da vida. E, embora queira e consiga passar essa mensagem de esperança e de determinação, perde-se no fio narrativo, perde-se na construção das personagens, perde-se no mundo próprio e fechado que Friðriksson parece ter criado propositadamente. É pena, porque Niceland poderia ser um grande filme.
Primeiro filme que vejo deste tailandês cujo nome é quase impronunciável, Apichatpong Weerasethakul. Primeiramente que tudo, é um filme político. A imigração ilegal é o principal foco do tailandês. A história centra-se em três personagens fulcrais, Min (o tal imigrante birmanês), Roong (a namorada tailandesa) e Orn (uma mulher de meia idade que parece ser tipo protectora de Min). E Weerasethakul apresenta-nos estas três personagens antes dos créditos iniciais (convém referir que só passado 45 minutos é que estes são apresentados – algo inédito penso eu). Mas relativamente ao filme, existe sobretudo um teor político como já referi. Por outro lado, o filme vive duma forte conotação sexual (existe inclusive uma cena explícita onde Roong acaricia o pénis de Min). Roong abandona o trabalho sob o falso pretexto de estar doente e parte juntamente com Min para um local exótico com vista a ter uma tarde de romance e prazer. Orn trai o marido perto do local onde Min e Roong estão. Ou seja, o cineasta tailandês parece-me preocupado em explorar o momento, o prazer humano momentâneo, especialmente o prazer sexual, o clímax do momento. Mas o início do filme explora essa vertente política. Min tem uma doença qualquer da pele (é irrelevante qual), mas o importante é reparar que ele nem fala (a namorada alega que ele tem desde criança dores de garganta que o impossibilitam de falar). E não fala simplesmente para não revelar a sua verdadeira identidade, a nacionalidade. Antes de saírem do médico pedem um atestado de robustez física à médica, mas sem documentos é impossível diz-lhe esta. E onde estão os documentos? Portanto, o tailandês divide, quanto a mim, o filme em duas partes. A primeira parte (os primeiros 45 minutos que antecedem os créditos iniciais) onde ele incide nessa temática política, nessa problemática da imigração. A segunda parte reserva-nos essa exploração do desejo sexual. E aqui, Weerasethakul faz o elo de ligação entre o sexo e a natureza. Porque é no bosque onde os amantes (quer o jovem casal quer Orn e o amante) se entregam ao desejo sexual. E depois temos a beleza naturalista e paisagística do filme, a luz, a claridade. Tenho de descobrir mais profundamente este senhor.
Gostei do filme embora não me tenha encantado tanto como Vozvrashcheniye. Mais uma vez, torna-se claro que a grande referência de Zvyagintsev é Tarkovsky. Na contemplação do espaço principalmente, na vertente naturalista, na busca da fé.