O casamento de maria braun é dos fassbinders mais contundentes e simbólicos, só a cena em que maria, numa festa em casa, deambula de mão em mão pelos familiares até acabar no amante rico personifica toda uma nação erguida dos escombros, vencida e prostituida ao poder económico no pós-guerra; verdadeira obra-prima, maria braun impõe toda a contenção do mundo num leitmotif caótico, coisa recorrente em fassbinder, e num kammerspiel de maria, ainda que mais palavroso, análogo à alemanha e ao seu milagre económico; é portanto, na sua análise ao poder e à sua ascenção alcançada sob a batuta da frieza emocional e do cinismo, repleta de esvaziamento moral, em decrescente e que culmina na explosividade após reunificação do casal (como se fassbinder preconizasse a actualidade alemã), um filme completamente ambíguo onde a masculinidade que é ameaçada - depois de vencida - é a mesma que assegura a lealdade de maria, e logo no primeiro momento de reencontro ela declara isso com aquele acto - kammerspiel também declarado; maria braun é, numa incessante procura da personificação nacional, uma coisa tão brechtiana quanto straubiana e quanto sirkiana, é portanto na sua sacralidade da mise-en-scène, na composição imagética e sonora do seu todo e na relação com as suas personagens, dissecando-as emocionalmente e psicologicamente, nos seus movimentos de câmara, nos fora de campo e na sua découpage que esta obra-prima de fassbinder se eleva, assim como a alemanha se elevou e ergueu dos escombros.
Sem comentários:
Enviar um comentário